sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Coriolano

Primeira vez ( esse ano, claro ) no Sesc Bom Retiro, para assistir ´Coriolano´:




O Sesc Bom Retiro é meio que um ´oásis´  na região do Centro de São Paulo conhecida como ´cracolândia´. É mais uma tentativa de revitalizar a região, mas claro, é insuficiente. Não vou entrar em maiores considerações sobre a região ( sou arquiteto e urbanista ), porque esse não é o tema desse blog. De qualquer maneira, fui de carro e estacionei dentro do próprio Sesc - é o mais seguro a se fazer. Aliás, quando comecei o texto afirmando que era a primeira vez no Sesc Bom Retiro nesse ano, é porque em 2012 - ainda antes de começar esse blog -  estive lá para assistir ´Sonhos de uma noite de verão´,  também de Shakespeare.

Diferente de outras unidades novas do Sesc, como o Santana, o Vila Mariana e o Pinheiros, no Bom Retiro não há um foyer exclusivo para o teatro. O acesso à sala se dá pelo hall principal do edifício. Lá dentro a sala é razoavelmente confortável, as poltronas são boas, mas o corredor poderia ser um pouco mais espaçoso. Só que...

É relativamente comum ver no Sesc turmas de alunos. Formação de público, interesse no tema da peça, enfim, são muitos os motivos para que isso aconteça, e todos louváveis, claro. Mas bem que os professores, e principalmente as famílias, poderiam dar uma pequena aula de educação antes do pessoal ir ao teatro. O comportamento de boa parte da platéia foi um horror. Gente conversando, fazendo barulho, e pior, num deteminado momento, quando Coriolano está jurando sua vingança, um rapaz começou a rir de alguma piada, ou de algo que viu ao telefone, não sei... só sei que não foi nada relativo ao que acontecia em cena.

Mas o que interessa mesmo é a peça, um texto de Shakespeare, uma tragédia incrível. Resumindo bastante, é a História de Caio Márcio ( Ariel Borghi ), um jovem general romano. Ele guia os soldados na vitória contra a cidade de Coriolus ( e daí ganha seu apelido, Coriolano ). Após a vitória ele é recebido em triunfo, mas para ser nomeado cônsul, tem que fazer um juramento de fidelidade à plebe ( representados por Josué Torres e Cacá Toledo ). O senador ( Carlos Meceni ), apesar de seu esforço, não consegue persuadir Coriolano, que então é expulso de Roma e se junta a seu antigo inimigo Audifius ( Pérsio Plensack ), e retorna com o exército dos volscos contra Roma. Mas antes disso, a mãe de Coriolano, Volumnia ( Esther Góes ) e sua esposa Virgínia ( Amanda Vides Veras ) vão visitá-lo em seu acampamento, e imploram para que ele desista de tomar Roma. Ao conseguirem isso, e portanto, ao manterem sua posição social, elas condenam Coriolano à morte, pois ao voltar ao acampamento dos volscos, ele sabe que será tomado por traidor também por eles, e será seu fim.

Só por esse resumo simplório já dá pra ver que é uma tremenda história. Mas tem muito mais...  como em qualquer grande texto, há muitas leituras possíveis: existe o embate entre o que hoje chamamos de ´esquerda´, representada pela plebe, e ´direita´, nas idéias de Coriolano; os representantes da plebe são dois tribunos arrivistas, mais preocupados em conseguir posições para eles mesmos do que em defender os direitos do povo. Aliás, isso me pareceu uma coisa muito semelhante a certos personagens do partido dos trabalhadores de hoje em dia...  mas essa é outra discussão. Há também um forte embate entre a moral de Coriolano e as conveniências políticas representadas pelo senador; o amor pela família ( a mãe e a esposa ) versus a manutenção do que Coriolano entende por honra... A ganância e a corrupção contra a ética ( mesmo que seja uma ética que nos é estranha hoje em dia ). Enfim, tem muita coisa a ser interpretada / entendida.  Aliás, ia esquecendo: a adaptação do texto, feita pela Esther Góes e pelo Ariel Borghi ( filho dela ), foi feita de maneira a deixar o texto o mais coloquial possível para a nossa linguagem. Ou seja, a trama é complexa, é complicada, mas foram evitadas expressões e palavras de difícil compreensão para o espectador comum.

O cenário é simples, mas bem-bolado: colunas com arcos que formam pórticos, e que conforme a configuração e a iluminação do palco podem ser um pátio de uma residência, uma praça...  já os figurinos são bem mais elaborados. Mas tudo isso não serviria de nada se não fossem os atores... e se o Ariel Borghi às vezes tropeçava no texto, me deu a impressão de que isso acontecia pela ênfase com que ele se colocava em cena. Josué Torre e Cacá Toledo, como os tribunos da plebe, também chamaram a minha atenção pelos malandragem com que dotaram seus personagens. Mas a grande cena mesmo foi o lamento da mãe de Coriolano, Volumnia ( Esther Góes ).  Quando ela sai dos muros de Roma à noite, encontrar seu filho que está próximo a invadir a cidade comandando um exército inimigo, ela dá uma aula de interpretação, pois a personagem está ciente do que acontecerá caso ele venha a acatar o seu pedido de não atacar Roma - Coriolano será morto. Mas deixar que Coriolano mantenha seus planos significa acabar com sua própria vida, de sua família, de sua linhagem...  a Esther solta um lamento tão profundo, tão visceral, que acho que mesmo quem estava lá somente para dar satisfação à professora, nesse momento ficou impressionado...

Enfim, apesar do incômodo causado pela platéia, o importante é que há uma ótima montagem disponível a preços populares no Sesc. Aliás, se não fosse o Sesc, acho que eu não teria como assistir a metade das peças que vejo. Salve o Sesc!





Coriolano
Com Esther Góes, Ariel Borghi, Pérsio Plensack, Carlos Meceni, Amanda Vides Veras,Jean Dandrah, Pedro Paulo Ferme, Josué Torres e Cacá Toledo
Texto de Willian Shakespeare
Adaptação de  Esther Góes e Ariel Borghi
Direção de Esther Góes
Sesc Bom Retiro, até 13/out/13

domingo, 22 de setembro de 2013

Jacinta

Jacinta, no Sesc Vila Mariana:



Mais uma peça que não vou ter tempo de comentar como queria...  mas afinal, esse blog é um prazer, e não um emprego. E às vezes fica difícil conseguir tempo para escrever um texto maior...

Resumindo muito, é a história de Jacinta, a ´pior atriz do mundo´, que foge de Portugal para o Brasil para não ser morta por causa de uma atuação sua ao Rei, e aqui também se mete em mil confusões.  É um musical muito humor - mas ao que me pareceu numa primeira audição, sem músicas que ´funcionem´  fora da montagem.

De qualquer maneira, vale registrar algumas coisas: a montagem é incrível, um palco onde as coisas vão acontecendo em várias ´camadas´ - no centro se desenvolve a história principal, mas em muitos momentos, ao lado e ao fundo vão acontecendo outras coisas, inclusive a preparação dos atores para o outros personagens.

A Andréa Beltrão, que faz a Jacinta, se não é nenhuma grande cantora, também não faz feio. E tem a veia cômica que a gente conhece tão bem do cinema e da tv. Os outros atores também vão muito bem, todos interpretam vários personagens, com destaque para Augusto Madeira, que faz Manuel, o par de Jacinta, Hamlet...

Pena que já vai acabar.


Jacinta
Com Andréa Beltrão, Augusto Madeira, Gillray Coutinho, José Mauro Brant, Isio Ghelman, Rodrigo França
Comédia-rock de Newton Moreno, Aderbal Freire-Filho e Branco Mello, a partir da peças ´Jacinta´, de Newton Moreno
Direção de Aderbal Freire-Filho
Direção Musical de Branco Mello
Sesc Vila Mariana, até 22/set/13

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Don Giovanni

De novo no Municipal, agora para acompanhar ´Don Giovanni´, de Mozart:





Dessa vez foi o contrário de Aída, onde eu conhecia algumas das melodias, mas não sabia quase nada da história. ´Don Giovanni´ é obviamente a história de ´Don Juan´,  que teve uma versão teatral em São Paulo que assisti no ano passado, e por isso estava relativamente fresca na memória. 

Na abertura havia uma grande tela translúcida, onde eram feitas algumas projeções que davam um aspecto um tanto sobrenatural ao palco, e depois vim a entender a razão disso. Essa tela acompanha quase todo o espetáculo com projeções de vegetação na suas bordas superiores, e o simples fato dela estar ali, na frente de quase tudo o que acontece em cena, dá um caráter etéreo ao que vemos. São poucos os momentos em que ela é recolhida, ou que os atores ficam antes da tela.

O cenário de certa maneira repete uma solução presente também em Aída: um plano inclinado que atravessa o palco, formando uma ´cunha´ por onde os personagens se movimentam no espaço.  Nesse plano inclinado há dois imensos pilares, que depois se movimentam para conformar outros espaços ( um jardim, o interior de um palácio, um cemitério... ). Mas basicamente o cenário se mantém durante todo o primeiro ato, havendo apenas algumas alterações na posição dos pilares e nas projeções ao fundo.

Quanto aos figurinos, eu acho que houve um problema: as ´pobres camponesas´, e os ´aldeões´ estavam vestidos quase iguais aos ´senhores´... A posição social não batia com as vestes do coro. E novamente comparando com Aída, os figurinos em geral não eram tão impactantes. Aliás, a ópera toda, na comparação com o espetáculo anterior, me parece que saiu perdendo.

O clima meio etéreo, um tanto ´noir´ da encenação, como eu vim a entender depois, foi criado para marcar mais fortemente a relação de ´Don Juan´ com ´Drácula´. Há sim várias semelhanças na história, como esclarecido no programa ( aliás, mais um belo livro, com todas as falas dos personagens ). Mas a adaptação, digamos assim, fica no meio do caminho. Em alguns momentos apenas é que transparece essa semelhança entre as histórias, como por exemplo quando Don Juan seduz uma camponesa e morde seu pescoço, ou quando ele é obrigado a fugir de seus perseguidores, e escala um dos pilares gigantes à moda do que vemos nos filmes de vampiro.

E apesar de ser um título famoso, eu não havia me dado conta de que não conhecia nenhuma das melodias da ópera - o que é uma falha minha, sem dúvida. Mas saí de lá sem que nenhuma melodia me encantasse de modo especial. Não tenho conhecimento técnico para analisar as performances dos cantores, mas em todo caso dessa vez não houve aplausos em cena aberta, com uma exceção apenas, para uma ária cantada pela personagem ´Donna Elvira´ ( Monica Bacelli, na noite em que estive presente ), já no final da apresentação.

Os fãs de Mozart podem me matar ao ler isso, mas a história, apesar de já a conhecer, me pareceu mais cativante do que a música. Há o humor da relação entre Don Giovanni ( Nicola Ulivieri ) e seu criado Leporello ( Davide Luciano ), que aliás, acho que foi quem se destacou mais na parte cênica, justamente por explorar o lado mais jocoso da história. O Don Giovanni feito pelo Nicola me pareceu um personagem muito ´plano´, excessivamente sério, mesmo quando tem falas divertidas. Talvez isso tenha acontecido por um problema de saúde, já que no intervalo fomos avisados de que o intérprete não estava 100%, mas que por respeito à platéia continuaria mesmo assim. De qualquer maneira, as intervenções de Leporello roubavam a cena. Também acho que mereceu destaque a interpretação de Monica Bacelli para Donna Elvira, que mesmo já consciente de que Don Giovanni nunca vai ´tomar jeito´,  ainda alimenta esperanças de tê-lo novamente, e ela realmente passava essas alternâncias entre os estados da personagem, que alimentava a ilusão ou se ressentia violentamente contra o ex-amante. As demais mulheres da vida do Don Juan, Donna Anna ( Andrea Rost ) e Zerlina ( Carla Cottini ) não me pareceram tão marcantes. 

Enfim, foi uma nova experiência, mais uma ópera para o meu repertório particular. Mas não foi algo marcante, dessas apresentações que a gente sabe que vai lembrar para o resto da vida, como quando vi outra ópera de Mozart também no Municipal, acho que ainda no milênio passado... Foi ´A Flauta Mágica´, e a encenação era com bonecos, acionados por dois titereteiros, e os cantores ficavam atrás dos bonecos, todos com roupas pretas. Lembro até hoje do ´Papageno´ com uma gaiola atrás das costas, como mochila, e da ária da ´Rainha da Noite´. Já essa versão de ´Don Giovanni´, acho que não vai ficar na memória tanto tempo assim.




Don Giovanni
Com Nicola Ulivieri, Davide Luciano, Monica Bacelli 
Ópera de W. A. Mozart, com libreto de Lorenzo da Ponte
Regência de Yoram David
Theatro Municipal de São Paulo, até 22/set/13







segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Deus é um DJ

A ´maldição´ do Teatro Jaraguá continua...



A ´maldição´  é a seguinte: até hoje não consegui assistir a uma peça de que realmente gostasse nesse teatro. Sei que a culpa também é minha, lá já estiveram em cartaz, entre outras,  ´Nara´, mas essa eu assisti no Teatro Augusta,  ´Em nome do Jogo´, que parece que foi muito boa e eu perdi. Medianas, assisti no Teatro Jaraguá ´Segredo entre mulheres´ e ´Guarde um beijo meu´, que era uma peça para adolescentes, feita por jovens atores, então foi mais ou menos como assistir a um espetáculo escolar - nem conta muito. Agora, a lista de ´roubadas´ em que já me meti nesse espaço é longa: ´Pessoas absurdas´, ´Três homens baixos´, ´Os Penetras´  e a hors-concours ´Manual Prático da Mulher Desesperada´,  a atuação mais bisonha que já vi, com a Adriana Biroli.  Meu consolo é que em nenhum desses desastres eu cheguei a pagar o ingresso...

Sobre o espaço do Teatro Jaraguá, no qual fiz minha primeira visita nesse ano, é um teatro que fica no subsolo do hotel de mesmo nome, no Centro de São Paulo. Há dificuldade para estacionar, já que costumo ir de carro: existe um serviço de valet do próprio hotel, mas muito caro. Deixar na rua é complicado porque sempre há ´flanelinhas´  para achacar os motoristas, então o jeito é deixar o carro em um estacionamento próximo. O teatro, que também é usado para convenções do hotel, fica no segundo sub-solo e tem um foyer com aqueles carpetes incrivelmente desenhados de hotéis internacionais. Na minha humilde opinião, um horror... mas pelo menos há um bom número de poltronas e cadeiras, e quase sempre dá para esperar o início da peça sentado. Lá embaixo não tem bar, e nem mesmo um bebedouro onde se possa aliviar a sede. Como tenho o costume de beber bastante água, tenho que lembrar sempre de levar uma garrafinha comigo. Por outro lado, o fato do teatro ficar no subsolo tem uma grande vantagem: não há sinal de celular! É muito mais difícil algum aparelho tocar, ou mesmo ter que aguentar a tela azul do Facebook no smartphone de quem está sentado à sua frente. E lá dentro, o conforto das poltronas é razoável, o mobiliário foi bem escolhido, mas poderia haver alguns centímetros a mais entre as fileiras.

Mas o que interessa mesmo é a peça. Foi a estréia na direção do escritor Marcelo Rubens Paiva, uma pessoa a quem admiro, e foi essa a razão que me levou a ver esse espetáculo, já que o universo dos DJs e da música eletrônica não é bem minha praia. A peça já começa de um jeito interessante: o casal de atores entra, se acomoda numa chaise, e fica ali, ouvindo música enquanto o pessoal se acomoda na platéia. Depois, vem a apresentação muito espontânea do Marcos Damico e da Guta Ruiz, que interagem com o público, e chegam a incentivar que todos tirem fotos com seus celulares e postem nas redes sociais, principalmente no Instagram. Em seguida acontece quase um monólogo do Marcos, que se apresenta como sendo um DJ e vai contando de sua grande viagem pelos Estados Unidos, das experiências inesquecíveis que teve por lá, de como foi roubado por uma garota, e aí vem o gancho para que a Guta entre na ´conversa´ entre o DJ e o público, e demonstrando certo ciúme, inicia uma pequena discussão. Depois que esse assunto é superado, é a vez dela de se apresentar, e aí ficamos sabendo que ela é uma VJ, que teve um programa na tv fechada que durava horas, no qual ela ficava falando sem parar, qualquer coisa que passasse pela sua cabeça. E ela acredita que fez sucesso, e que é reconhecida por isso...

O cenário, além da chaise onde começa a peça, conta com um telão ao fundo e uma mesa com vários equipamentos eletrônicos à esquerda: tv, notebook, tablet, mesa de mixagem, câmera de vídeo... e esses equipamentos vão sendo manipulados pelo Marcos durante a peça, imagens que são captadas ao vivo são transmitidas para o telão e a tv. Aliás, a apresentação em que estive presente foi a última da temporada, e a webcam falhou algumas vezes. Eles não perderam o rebolado, isso foi incorporado à peça.  Do lado direito há uma parede, de onde sai uma mesa escamoteável que faz as vezes de um fogão cênico, de um modo muito divertido. 

O que vamos acompanhando, depois das devidas apresentações, é o relacionamento entre o casal. Como se conheceram, as incompreensões, as inconfidências, os conflitos e as reconciliações entre os dois, os planos para o futuro ( ela quer ter um filho dele...),  tudo isso através de uma narrativa fragmentada e com o uso intenso dos equipamentos de áudio e vídeo. Essa é a grande sacada da peça, os dois estão em um tipo de ´big brother´, sendo transmitido por um canal de tv a cabo, e fazem tudo em frente à platéia e à câmera. O texto trabalha sempre nessa dualidade: estamos vendo a ´realidade´ de um casal ou o que vemos é uma encenação para um programa de tv? Os personagens são rasteiros em suas ambições e em seu aspecto intelectual, a Guta é louca pela fama, o Marcos é um tipinho que acha que vai mudar o mundo com inserções de batidas eletrônicas em músicas alheias.  Por outro lado, eles desenvolvem um relacionamento amoroso profundo, onde os dois se desnudam totalmente um para o outro, e consequentemente, para a platéia e a tv. 

Eu fiz essa postagem propositadamente citando os nomes dos atores, pois a linha entre representação e realidade é muito tênue nessa peça. Ao final, o Marcos agradece a presença de todos, agradece à equipe técnica pela temporada e fala de sua satisfação em ter a Guta Ruiz como parceira nesse espetáculo, mas exatamente com o mesmo tipo de discurso do seu personagem DJ. Ele estava representando ou estava sendo ele mesmo? Onde termina a ficção, até onde o que ouvimos foi texto do autor alemão Falk Richter, até onde foi a realidade durante aqueles momentos no teatro?

Para quem como eu, não tem especial predileção pelo mundo da ´fama instantânea´ e não está lá muito interessado em discutir a relação entre imagem e realidade, a peça não deixa saudades, mas acho que vale a pena registrar que isso é uma questão muito pessoal minha. Não tenho maior interesse por esse universo, e ponto. Afinal, esse é um blog pessoal, e não de crítica especializada, então acho que cabe sempre colocar a minha opinião sobre o que me satisfez ou não, e afirmar que não saí satisfeito do teatro, mesmo que eu reconheça qualidades na montagem.  A encenação é sim interessante, o recurso dos vídeos ao vivo é muito pertinente. Essa dualidade entre real e ficção é presente o tempo todo, o que também é muito legal. Mas por outro lado, dá a impressão de que estamos vendo um ´big brother´ ao vivo. E para quem encarar o texto como um simulacro do tempo em que vivemos... deixo essa análise para o pessoal de semiótica. 

No final, não vou colocar essa peça como uma das roubadas a que estive presente no Teatro Jaraguá, mas a ´maldição´ de não sair satisfeito daquele teatro continua.




PS: mesmo com a orientação para que os celulares ficassem ligados, nenhum tocou durante a peça... foi ótimo estarem todos sem sinal por alguns minutos. Acho que vou começar uma campanha por bloqueadores de celular em todos os espaços culturais, já que nos presídios eles não funcionam, quem sabe nos teatros...


Deus é um DJ
Com Guta Ruiz e Marcos Damigo
Direção de Marcelo Rubens Paiva
Texto de Falk Richter
Teatro Jaraguá, SP, até 08/set/13


domingo, 8 de setembro de 2013

Cruel

´Cruel´  é a peça que o Reynaldo Gianechini estava fazendo quando foi diagnosticado com câncer, uns dois anos atrás:


Essa é uma imagem da web. Não consegui pegar o programa, havia poucos disponíveis...

E apesar de ser um texto do August Strindberg, com direção de Elias Andreato, sem dúvida a platéia estava lá era para ver o ´Giane´.  Quando cheguei à bilheteria para pegar o ingresso que havia comprado pela internet, três meninas de uns vinte anos de idade que estavam na minha frente perguntaram ao bilheteiro se depois daria para tirar fotos com o ´Giane´,  e ficaram excitadíssimas quando ele respondeu que sim...  e isso, sem dúvida, se reflete por toda a platéia.

Eu costumo registrar o clima que percebo na platéia porque acho isso importante, faz parte da magia do teatro. Uma platéia concentrada, ou ao contrário, dispersa, pode modificar o desempenho dos atores. Afinal, é teatro, estamos todos ali, ao vivo, e isso faz toda a diferença. Eu tenho por hábito reclamar muito de quem atrapalha o espetáculo, com celulares ou com conversas paralelas. Claro que não imagino que todos devem ficar como múmias assistindo o que acontece no palco - as pessoas riem, se surpreendem, se incomodam e ficam trocando de posição nos assentos, isso é normal. Mas ver o que acontece quando há atores ´globais´,  especialmente um galã do porte do Gianecchini, é algo que me deixa abismado. Aquele monte de mulheres que estão ali somente por causa dele devem ter saído decepcionadas, pois afinal de contas, os personagens se mantém vestidos dos pés à cabeça o tempo todo, com roupas de época, nada sexy para os padrões atuais.

Como eu acabei enveredando pelo tema ´Gianecchini´, vou dizer logo o que achei: como quase todo mundo, tenho uma simpatia pela ´persona pública´ dele. Sempre me pareceu um cara legal, equilibrado, apesar de todo o sucesso e todo o assédio. E claro, por saber de seu problema grave de saúde, é normal que as pessoas sintam uma certa compaixão, uma boa vontade maior com quem passou por essa situação.  Só que nada disso iria fazer com que o desempenho dele como ator pudesse melhorar, se ele fosse um canastrão - e não é. Posso dizer que ele foi muito bem - ótimo mesmo. O personagem dele, ´Gustavo´,  é o principal da trama, é quem leva ao desfecho trágico do drama, é o senhor dos acontecimentos, o único que tem consciência o tempo todo do caminho a seguir. E é um homem muito racional, com um grande poder de argumentação, ao mesmo tempo que é sensível e  ainda profundamente apaixonado pela sua ex-mulher, Tekla ( Maria Manoella ). Ou seja, tem muito o que passar pra platéia, é um personagem complexo, cheio de nuances, e para comunicar isso tudo não se é com bíceps ou tórax expostos, mas sim com pequenos gestos e entonações. E foi exatamente dessa maneira que o Gianecchini deu conta do recado muito bem, mostrando que não é um físico atraente às mulheres que justifica a sua presença nos palcos. Para terminar esse assunto, quando ele entrou em cena ouviu-se suspiros na platéia, e até um assovio. As duas mulheres que estavam ao meu lado, aliás, daquelas com cara de solteironas, não paravam de cochichar sobre ele, assim como outras que estavam na fileira de trás. E da mesma maneira em que eu saí satisfeito do teatro, acredito que elas devam ter ficado decepcionadas, pelos aplausos burocráticos que deram.  Ou seja, quem foi ao Teatro Faap para ver o Gianecchini exibir seus dotes físicos, perdeu a noite. Quem foi para ver uma boa peça de teatro, saiu satisfeito.

Enfim, finalizados os temas ´comportamento da platéia / Gianecchini´, tem mais coisa para se falar. Essa peça do Strindberg, o mesmo autor de ´Senhoria Júlia´,  é um texto muito denso, cheio de nuances, onde até o desfecho final nada é bem o que aparenta. Basicamente o que é narrado é a vingança do ex-marido da escritora Tekla ( Maria Manoella ), chamado Gustavo ( Reynaldo Gianecchini ). Ele se aproxima do atual marido, o pintor e escultor Adolfo ( Erik Marmo ), apoiando-o em um momento de fraqueza e de doença. E começa a tramar contra o próprio Adolfo sem que ele perceba, colocando dúvidas em sua cabeça quanto à fidelidade de Tekla. Gustavo então faz com que no momento em que se encontra com Tekla, Adolfo fique em outro cômodo, ouvindo toda a conversa, sem que Tekla saiba. E aí, o ciúme de Adolfo, ao ouvir a conversa de Tekla e Gustavo, leva à tragédia do desfecho. Mas o que importa mesmo não é o final, mas como se chega a ele. As palavras de Gustavo são sempre precisas, independente de para que lado ele está levando a conversa: absolutamente generoso e ´insinceramente´ interessado em ajudar Adolfo no início, depois ferino e mordaz ou carinhoso e sedutor com Tekla, que não é uma mulher submissa ou um simples par romântico, mas sim uma mulher sedutora, decidida e com inteligência acima da média. Suas falas também são sempre cortantes, ela domina o atual marido, o pintor Adolfo. Ou seja, os dois principais personagens, Tekla e Gustavo, são verdadeiros esgrimistas com as palavras, com frases que dizem muito mais do que o simples enunciado. Principalmente nos diálogos entre Gustavo e Tekla, há sempre um nível muito grande de tensão no ar. E tudo isso vem com três atores que desempenham muito bem seu papel. O personagem do Erik Marmo não tem essa característica presente nos outros dois de ser alguém tão arguto, tão forte em suas palavras. Ao contrário, é um homem alquebrado, fragilizado por uma doença física e por uma submissão à mulher, que com sua carreira de escritora ofusca o seu brilho de artista. E isso é transmitido com perfeição pelo ator, que faz seu papel de modo bastante satisfatório.

Enfim, ´Cruel´ é uma peça que tem um forte conteúdo psicológico, o que Gustavo faz é uma verdadeira tortura com os demais personagens. A encenação toda é baseada na força das palavras, não há grandes gestos, grandes movimentações físicas. Os figurinos, o cenário, tudo é em tom menor, nada tem tanta importância quanto o texto. Os figurinos são ok, terno e fraque para os  homens, e um vestido longo para a Maria Manoella - roupas de época, bonitas, adequadas. O cenário é basicamente feito de três paredes com grandes janelas, por onde em alguns momentos se percebe através da semitransparência dos ´vidros´ os vultos dos personagens entrando ou saindo de cena, mais uma poltrona, uma cadeira, um pequeno aparador com espelho. E a iluminação é importante nessa peça, marcando as cenas, dando a condição para as silhuetas em contra-luz... agora, quanto à trilha sonora, lembro que de início há alguma música clássica dando o clima, mas depois, sinceramente, não sei se porque fiquei totalmente ligado no texto, mas não lembro de mais inserções musicais. 

Quanto ao espaço físico do teatro, já fiz alguns comentários, inclusive sobre o alto preço do estacionamento, quando estive no Teatro Faap no início do ano para assistir ´Quase Normal´.



Cruel 
Com Reynaldo Gianecchini, Maria Manoella e Erik Marmo
Direção de Elias Andreato
Texto de August Strindberg
Teatro Faap, SP, até 09/set/13


sábado, 7 de setembro de 2013

O Continente Negro

No Teatro Sérgio Cardoso está acontecendo uma mostra do ´Grupo 3´, o ´coletivo´ de que fazem parte a Débora Falabella ( atriz ´global´ ) , Yara de Novaes e o produtor Gabriel Fontes Paiva:



E lá fui eu conferir. Dessa vez, ao contrário de quando assisti ´Deus da Carnificina´ , fiquei bem lá na frente, aliás, acho que no melhor lugar. Acontece que a fileira ´E´ fica logo atrás de um corredor que separa as primeiras poltronas, e portanto, há muito espaço para esticar as pernas. Além do mais, a ´E´ fica mais ou menos na altura do palco, ou seja, a visualização é perfeita.  Pelo fato da peça contar com uma atriz global, e também por ser uma temporada de preços populares, eu imaginava que a platéia estaria cheia, mas não foi o que aconteceu. Mas mesmo assim, com pouquíssima gente e bem perto do palco, tinha gente acessando o Facebook durante a peça. Atrapalha muito a luz azulada que vem do smartphone, e além do mais isso é uma tremenda falta de respeito com os atores. Eu não costumo levar tic-tac ao teatro, porque o barulho que faz na caixinha também incomoda bastante. Mas estou pensando seriamente em levar alguns no bolso para ´bombardear´ quem ficar com o telefone ligado durante as peças... hehehe

Em todo caso, essas coisas irritam, distraem, mas não chegam a tirar o prazer de ir ao teatro. Dessa vez, assim que cheguei fiquei impressionado com o cenário. Era uma estrutura que remetia a uma casa, com vários espaços configurados por fechamentos verticais feitos de esquadrias de ferro - janelas, quase todas, algumas com vidro, outras não, várias com vidro canelado.  Mas a ´implantação´ não era ortogonal em relação ao palco, ou seja, não havia uma parede de frente para a platéia, era como se estivéssemos vendo através de uma esquina, a ´casa´ estava rotacionada a 45°. E ela não tomava o palco todo, havia um espaço até as cortinas ao fundo e dos lados. Também havia à direita  havia uma carcaça de um automóvel, com um pouco de terra e algumas plantas sugerindo um quintal. Ou seja, isso tudo formava um ´labirinto´, um espaço que permitia muitas passagens por entre as divisões verticais, assim como era possível circular em torno de toda essa estrutura. Enfim, achei incrível o cenário, muito interessante mesmo.

É difícil contar a ´história´  de ´Continente Negro´, já que o que a gente acompanha não é bem uma única história, mas sim fragmentos que vão se entrelaçando, ou não. Cada ator, obviamente, faz mais de um personagem durante a peça, para dar conta das várias histórias. Há a mulher que é agredida pelo marido, a que vai ao motel com um desconhecido, a família em que o marido tem um caso com a cunhada, a ex-mulher que abandonou o filho com o marido e nunca mais o viu, a aluna que se apaixona pelo professor de artes...   O que todas essas histórias têm em comum é a dificuldade dos relacionamentos, as incompreensões entre as pessoas, que basicamente esperam que as outras aceitem e contemplem os seus desejos.

Todo o texto, ou melhor dizendo, todos os textos são pequenos dramas. Com exceção de um diálogo do casal que vai para o motel assim que se cruzam na rua, não há humor, e de certa maneira, não há um ´desenrolar´ da história, são sempre situações de conflito que vão se sucedendo - apesar de que mais pro final duas das histórias se mostram conectadas. Mas a peça ´acaba quando acaba´,  não há um desfecho - o que claro, não é um problema em si, mas deixa a impressão de que se uma história fosse suprimida ou ainda se outra fosse acrescentada, o resultado final não seria muito diferente. Pela duração do espetáculo, não chegou a ser enfadonho, mas também não achei grande coisa, esperava mais. As atuações são todas ´ok´, sem destaque para ninguém - Yara de Novaes, Débora Falabella e Rodolfo Vaz, que na noite em que assisti fazia a sua estréia nesse espetáculo.

Enfim, o problema não é com os atores, não é com a direção, não é com o cenário, que eu achei muito bom. É que eu simplesmente não gostei do texto, mesmo. Fragmentar algumas histórias curtas ( às vezes os personagens voltavam à cena depois de que outra pequena trama era apresentada ), na minha opinião não faz com que a peça seja algo revolucionário que a exima de ter algo mais a apresentar. Simplesmente transpor para o palco algumas situações de desencontro entre casais também não acho que seja o suficiente para formar um bom espetáculo. Enfim, o autor do texto, o chileno Marco Antônio de La Parra que me desculpe, mas não foi dessa vez...

Por outro lado, não quero deixar de registrar a ´ousadia´, de montar um espetáculo não-comercial, de manter um grupo de trabalho atuante em teatro, especialmente quando se conta com alguém que está constantemente em evidência nas novelas da Globo. Sem dúvida, seria muito mais fácil e mais rentável fazer uma comédiazinha água-com-açúcar, caprichar na divulgação e ter a casa cheia todas as noites, contando simplesmente com o fama da Débora Falabella.

Eu não gostei desse espetáculo, mas vou conferir as outras duas peças da mostra do Grupo 3 de teatro, sempre no Sérgio Cardoso.

Curioso é que o nome do espetáculo não foi impresso no ingresso...


O Continente Negro
Com Yara de Novaes, Débora Falabella e Rodolfo Vaz
Direção de Adebal Freire Filho
Texto de Marco Antônio de La Parra
Teatro Sérgio Cardoso, SP, até 04/out/13


terça-feira, 3 de setembro de 2013

La Mamma

´La Mamma´  está em cartaz no Teatro Nair Bello, o mesmo onde assisti ´A Descida do Monte Morgan´. Foi a primeira vez em que fiquei lá no fundo, nas últimas fileiras. E como eu havia imaginado, mesmo de lá dá para ter uma boa visualização do palco - o teatro não é muito profundo, e os degraus entre as fileiras são grandes. O problema é que realmente não há muito espaço entre uma fileira e outra, fica complicado manter a circulação de sangue nas pernas... 


Assim como em ´Monte Morgan´, quando o público entra o cenário já está à vista. O que vemos é uma sala de estar de uma casa dos anos 50, com um sofá central em courvin azul, à direita uma mesa e quatro cadeiras com pés-palito, também revestidas em courvin, e mais um aparador com um telefone. Do lado esquerdo há uma pequena escada que daria acesso aos quartos ( que já estão fora de cena ), e em primeiro plano, um oratório.  Com exceção de um pequeno momento em que o oratório é iluminado como se a luz estivesse passando por um vitral, e portanto a ação se desloca para o interior de uma igreja, no mais toda a peça se desenrola nessa sala de estar. Há também o recurso cênico de uma tela ao fundo, por cima da parede de fundo da sala, onde em alguns momentos são feitas projeções de fotos do casamento de um dos personagens. 

A peça é uma adaptação de ´O Belo Antônio´, de Vitaliano Brancati, que tem uma versão em cinema clássica, com o Marcello Mastroiani, mas agora, é uma comédia centrada na figura da matriarca, a Mamma. Na noite em que assisti, quem participou da peça não foi a Rosi Campos, que aparece no programa, mas sua substituta, Arlete Montenegro. 

A Mamma é uma viúva que mora em Santa Rita, e que tem como seu maior orgulho o filho Antônio ( Leonardo Miggiorin ), um rapaz bonito e bem sucedido, que conseguiu um bom emprego depois de um período em São Paulo. Além disso, tem uma vasta fama de namorador, daqueles que não deixa passar uma mulher incólume, o que leva a queixas do Padre da cidade ( Carlo Briani ). Ela também é a mãe de Aldo, também representado pelo Leonardo, mas que ao contrário do irmão, é feio, desleixado, e que sempre viveu com a mãe. 

Antônio se apaixona à primeira vista pela filha do Tabelião da cidade, chamada Bárbara ( Débora Gomes, que também interpreta a empregada doméstica Rosina ). Ela é uma moça pura e inocente, que não faz idéia nem como as crianças são geradas, pois foi educada num convento. E depois de mais de dois anos de um casamento feliz, Bárbara descobre que está sendo enganada por Antônio. Não que ela esteja sendo traída, mas está sendo enganada porque descobre que ela não é efetivamente sua mulher, pois nunca tiveram nenhuma relação sexual. 

É aí que entra em cena o Tabelião ( Carlo Briani, que já tinha aparecido em cena como o Padre ), pois o pai da moça vai à casa de Mamma para explicitar a situação e dizer que está pedindo a anulação do matrimônio e sua filha de volta, já que o casamento não foi consumado. A Mamma, claro, em um primeiro momento não acredita que seu filho, o galã da cidade, possa ter deixado que sua esposa permanecesse virgem. Mas depois, ao fazer com que seu irmão Gildo ( novamente Carlo Briani ), que veio morar em sua casa durante um tempo, converse com seu filho Antônio, ela toma consciência de que o que o Tabelião falou é verdade, e começa a armar um plano para salvar a honra de seu filho e de sua família, pois a cidade toda já fofoca sobre o assunto. Daí pra frente não vou mais contar o enredo, já que a peça fica em cartaz durante um bom tempo ainda.

´La Mamma´  é uma comédia popular, uma peça de entendimento simples, sem nenhuma ousadia. Dá até a impressão de que a gente está assistindo a algum seriado na tv. Aliás, não, se fosse um programa de tv, seria uma reprise... o que a gente assiste hoje em dia é mais explícito no conteúdo sexual, ou mais arrojado na encenação, ou até as duas coisas. ´La Mamma´, se fosse filmado, poderia ser em preto-e-branco, ou então poderia ser uma daquelas rádio-novelas antigas.  Não há nada de errado em ser uma peça popular, de entretenimento fácil, mas sinceramente, depois de ver o Leonardo Miggiorin em ´Equus´  e em ´Lampião e Lancelote´,  acho que essa peça pode servir para pagar as contas, já que ele também é responsável pela produção, mas de qualquer maneira, é um desperdício de talento. 

Não que a atuação dele seja ruim, não é. Toda a encenação é caricata, os personagens são sempre muito marcados, não só do Leonardo, mas todos. Claro que o destaque vai para a Mamma, no caso, a Arlete Montenegro, que fala com o sotaque ítalo-paulista que se esperava. Aliás, mais do que imaginar como seria essa personagem com a Rosi Campos, fiquei pensando em como seria com a atriz que dá nome ao teatro, a Nair Bello, que afinal, era a própria paulista italiana... 

Em ´La Mamma´ tudo é muito básico. Mesmo os atores fazendo mais de um personagem, as mudanças, que sempre acontecem fora de cena, são tão claras, tão marcadas, que ter dois ou mais personagens para o mesmo ator não chega a ser ousadia. Dá até pra imaginar que é mais uma medida de economia mesmo...  O cenário reproduz uma casa de classe média dos anos 50, com cadeiras pés-de-palito, cores cítricas nos revestimentos, e uma cadeira é sempre uma cadeira, um sofá é um sofá... nada que seja uma alusão, uma poesia, tudo é o que é. Os figurinos são adequados, mas nada que chame a atenção. Não sou capaz de lembrar de nada da trilha sonora, não foi nada marcante ( aliás, quando entramos e quando saímos, tocavam músicas da Jovem Guarda ).  A iluminação, com exceção do momento em que a Mamma vai à igreja e há a projeção da luz que falei no início, também não tem grande expressão no espetáculo. Resumindo: tudo é ok, funciona, a peça diverte seu público, mas... não vai deixar lembranças. Enfim, saí do teatro com a impressão de que fui assistir a uma encenação certinha, divertidinha, bonitinha, engraçadinha...  e que não acrescenta nada.



La Mamma
Com Rosi Campos, Leonardo Miggiorin, Carlo Briani e Débora Gomez
Direção de Carlos Artur Thiré
Adaptação de Jean-Marie Roussin, sobre a obra de Vitaliano Brancati
Teatro Nair Bello, até 01/dez/13