E lá fui eu conferir. Dessa vez, ao contrário de quando assisti ´Deus da Carnificina´ , fiquei bem lá na frente, aliás, acho que no melhor lugar. Acontece que a fileira ´E´ fica logo atrás de um corredor que separa as primeiras poltronas, e portanto, há muito espaço para esticar as pernas. Além do mais, a ´E´ fica mais ou menos na altura do palco, ou seja, a visualização é perfeita. Pelo fato da peça contar com uma atriz global, e também por ser uma temporada de preços populares, eu imaginava que a platéia estaria cheia, mas não foi o que aconteceu. Mas mesmo assim, com pouquíssima gente e bem perto do palco, tinha gente acessando o Facebook durante a peça. Atrapalha muito a luz azulada que vem do smartphone, e além do mais isso é uma tremenda falta de respeito com os atores. Eu não costumo levar tic-tac ao teatro, porque o barulho que faz na caixinha também incomoda bastante. Mas estou pensando seriamente em levar alguns no bolso para ´bombardear´ quem ficar com o telefone ligado durante as peças... hehehe
Em todo caso, essas coisas irritam, distraem, mas não chegam a tirar o prazer de ir ao teatro. Dessa vez, assim que cheguei fiquei impressionado com o cenário. Era uma estrutura que remetia a uma casa, com vários espaços configurados por fechamentos verticais feitos de esquadrias de ferro - janelas, quase todas, algumas com vidro, outras não, várias com vidro canelado. Mas a ´implantação´ não era ortogonal em relação ao palco, ou seja, não havia uma parede de frente para a platéia, era como se estivéssemos vendo através de uma esquina, a ´casa´ estava rotacionada a 45°. E ela não tomava o palco todo, havia um espaço até as cortinas ao fundo e dos lados. Também havia à direita havia uma carcaça de um automóvel, com um pouco de terra e algumas plantas sugerindo um quintal. Ou seja, isso tudo formava um ´labirinto´, um espaço que permitia muitas passagens por entre as divisões verticais, assim como era possível circular em torno de toda essa estrutura. Enfim, achei incrível o cenário, muito interessante mesmo.
É difícil contar a ´história´ de ´Continente Negro´, já que o que a gente acompanha não é bem uma única história, mas sim fragmentos que vão se entrelaçando, ou não. Cada ator, obviamente, faz mais de um personagem durante a peça, para dar conta das várias histórias. Há a mulher que é agredida pelo marido, a que vai ao motel com um desconhecido, a família em que o marido tem um caso com a cunhada, a ex-mulher que abandonou o filho com o marido e nunca mais o viu, a aluna que se apaixona pelo professor de artes... O que todas essas histórias têm em comum é a dificuldade dos relacionamentos, as incompreensões entre as pessoas, que basicamente esperam que as outras aceitem e contemplem os seus desejos.
Todo o texto, ou melhor dizendo, todos os textos são pequenos dramas. Com exceção de um diálogo do casal que vai para o motel assim que se cruzam na rua, não há humor, e de certa maneira, não há um ´desenrolar´ da história, são sempre situações de conflito que vão se sucedendo - apesar de que mais pro final duas das histórias se mostram conectadas. Mas a peça ´acaba quando acaba´, não há um desfecho - o que claro, não é um problema em si, mas deixa a impressão de que se uma história fosse suprimida ou ainda se outra fosse acrescentada, o resultado final não seria muito diferente. Pela duração do espetáculo, não chegou a ser enfadonho, mas também não achei grande coisa, esperava mais. As atuações são todas ´ok´, sem destaque para ninguém - Yara de Novaes, Débora Falabella e Rodolfo Vaz, que na noite em que assisti fazia a sua estréia nesse espetáculo.
Enfim, o problema não é com os atores, não é com a direção, não é com o cenário, que eu achei muito bom. É que eu simplesmente não gostei do texto, mesmo. Fragmentar algumas histórias curtas ( às vezes os personagens voltavam à cena depois de que outra pequena trama era apresentada ), na minha opinião não faz com que a peça seja algo revolucionário que a exima de ter algo mais a apresentar. Simplesmente transpor para o palco algumas situações de desencontro entre casais também não acho que seja o suficiente para formar um bom espetáculo. Enfim, o autor do texto, o chileno Marco Antônio de La Parra que me desculpe, mas não foi dessa vez...
Por outro lado, não quero deixar de registrar a ´ousadia´, de montar um espetáculo não-comercial, de manter um grupo de trabalho atuante em teatro, especialmente quando se conta com alguém que está constantemente em evidência nas novelas da Globo. Sem dúvida, seria muito mais fácil e mais rentável fazer uma comédiazinha água-com-açúcar, caprichar na divulgação e ter a casa cheia todas as noites, contando simplesmente com o fama da Débora Falabella.
Eu não gostei desse espetáculo, mas vou conferir as outras duas peças da mostra do Grupo 3 de teatro, sempre no Sérgio Cardoso.
Curioso é que o nome do espetáculo não foi impresso no ingresso... |
O Continente Negro
Com Yara de Novaes, Débora Falabella e Rodolfo Vaz
Direção de Adebal Freire Filho
Texto de Marco Antônio de La Parra
Teatro Sérgio Cardoso, SP, até 04/out/13
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