De novo no Municipal, agora para acompanhar ´Don Giovanni´, de Mozart:
Dessa vez foi o contrário de Aída, onde eu conhecia algumas das melodias, mas não sabia quase nada da história. ´Don Giovanni´ é obviamente a história de ´Don Juan´, que teve uma versão teatral em São Paulo que assisti no ano passado, e por isso estava relativamente fresca na memória.
Na abertura havia uma grande tela translúcida, onde eram feitas algumas projeções que davam um aspecto um tanto sobrenatural ao palco, e depois vim a entender a razão disso. Essa tela acompanha quase todo o espetáculo com projeções de vegetação na suas bordas superiores, e o simples fato dela estar ali, na frente de quase tudo o que acontece em cena, dá um caráter etéreo ao que vemos. São poucos os momentos em que ela é recolhida, ou que os atores ficam antes da tela.
O cenário de certa maneira repete uma solução presente também em Aída: um plano inclinado que atravessa o palco, formando uma ´cunha´ por onde os personagens se movimentam no espaço. Nesse plano inclinado há dois imensos pilares, que depois se movimentam para conformar outros espaços ( um jardim, o interior de um palácio, um cemitério... ). Mas basicamente o cenário se mantém durante todo o primeiro ato, havendo apenas algumas alterações na posição dos pilares e nas projeções ao fundo.
Quanto aos figurinos, eu acho que houve um problema: as ´pobres camponesas´, e os ´aldeões´ estavam vestidos quase iguais aos ´senhores´... A posição social não batia com as vestes do coro. E novamente comparando com Aída, os figurinos em geral não eram tão impactantes. Aliás, a ópera toda, na comparação com o espetáculo anterior, me parece que saiu perdendo.
O clima meio etéreo, um tanto ´noir´ da encenação, como eu vim a entender depois, foi criado para marcar mais fortemente a relação de ´Don Juan´ com ´Drácula´. Há sim várias semelhanças na história, como esclarecido no programa ( aliás, mais um belo livro, com todas as falas dos personagens ). Mas a adaptação, digamos assim, fica no meio do caminho. Em alguns momentos apenas é que transparece essa semelhança entre as histórias, como por exemplo quando Don Juan seduz uma camponesa e morde seu pescoço, ou quando ele é obrigado a fugir de seus perseguidores, e escala um dos pilares gigantes à moda do que vemos nos filmes de vampiro.
E apesar de ser um título famoso, eu não havia me dado conta de que não conhecia nenhuma das melodias da ópera - o que é uma falha minha, sem dúvida. Mas saí de lá sem que nenhuma melodia me encantasse de modo especial. Não tenho conhecimento técnico para analisar as performances dos cantores, mas em todo caso dessa vez não houve aplausos em cena aberta, com uma exceção apenas, para uma ária cantada pela personagem ´Donna Elvira´ ( Monica Bacelli, na noite em que estive presente ), já no final da apresentação.
Os fãs de Mozart podem me matar ao ler isso, mas a história, apesar de já a conhecer, me pareceu mais cativante do que a música. Há o humor da relação entre Don Giovanni ( Nicola Ulivieri ) e seu criado Leporello ( Davide Luciano ), que aliás, acho que foi quem se destacou mais na parte cênica, justamente por explorar o lado mais jocoso da história. O Don Giovanni feito pelo Nicola me pareceu um personagem muito ´plano´, excessivamente sério, mesmo quando tem falas divertidas. Talvez isso tenha acontecido por um problema de saúde, já que no intervalo fomos avisados de que o intérprete não estava 100%, mas que por respeito à platéia continuaria mesmo assim. De qualquer maneira, as intervenções de Leporello roubavam a cena. Também acho que mereceu destaque a interpretação de Monica Bacelli para Donna Elvira, que mesmo já consciente de que Don Giovanni nunca vai ´tomar jeito´, ainda alimenta esperanças de tê-lo novamente, e ela realmente passava essas alternâncias entre os estados da personagem, que alimentava a ilusão ou se ressentia violentamente contra o ex-amante. As demais mulheres da vida do Don Juan, Donna Anna ( Andrea Rost ) e Zerlina ( Carla Cottini ) não me pareceram tão marcantes.
Enfim, foi uma nova experiência, mais uma ópera para o meu repertório particular. Mas não foi algo marcante, dessas apresentações que a gente sabe que vai lembrar para o resto da vida, como quando vi outra ópera de Mozart também no Municipal, acho que ainda no milênio passado... Foi ´A Flauta Mágica´, e a encenação era com bonecos, acionados por dois titereteiros, e os cantores ficavam atrás dos bonecos, todos com roupas pretas. Lembro até hoje do ´Papageno´ com uma gaiola atrás das costas, como mochila, e da ária da ´Rainha da Noite´. Já essa versão de ´Don Giovanni´, acho que não vai ficar na memória tanto tempo assim.
Don Giovanni
Com Nicola Ulivieri, Davide Luciano, Monica Bacelli
Ópera de W. A. Mozart, com libreto de Lorenzo da Ponte
Regência de Yoram David
Theatro Municipal de São Paulo, até 22/set/13
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