segunda-feira, 27 de maio de 2013

Alô Dolly

Finalmente fui assistir ´Alô Dolly´, no Teatro Bradesco:




Musicais não são exatamente a minha preferência no teatro, às vezes acho a ´relação custo-benefício´ complicada, porque essas grandes produções que de uns anos para cá passaram a ficar disponíveis em São Paulo normalmente têm preços exorbitantes.  Por outro lado, desde que vi o Miguel Falabella em um outro musical, Hairspray, passei a ser fã do trabalho dele no teatro, eu que nunca me diverti muito com os programas humorísticos em que ele aparece na televisão. Mas no teatro, eu tiro o chapéu para o trabalho do Falabella, que faz valer o ingresso.

Sendo assim, é claro que a minha tendência era de gostar do espetáculo,  ainda mais com a participação também da Marília Pêra, que dispensa apresentações. E não me decepcionei, de modo algum.

O Teatro Bradesco fica dentro do Shopping Pompéia, o que dá acesso fácil a quem vai de carro, e ainda permite uma passadinha na praça de alimentação antes de entrar. É um espaço confortável, na minha opinião com uma decoração mais pretensiosa do que propriamente luxuosa, mas em todo caso, acho que é hoje uma das melhores casas de espetáculos de São Paulo, com poltronas confortáveis, acesso fácil, boa visualização do palco. Acho que só quem sentou nas primeiríssimas fileiras é que se arrependeu, pois o palco é bastante alto, e com certeza dali não se pode ver bem - mas não foi o meu caso. E por incrível que pareça, mesmo havendo em cena duas grandes estrelas da tv, o público se comportou como deveria ser sempre... pelo menos onde eu estava sentado, não teve ninguém usando o celular ou se deslumbrando ao ver os atores da tv em cena. E olhe que fui numa quinta-feira, cheguei em casa e estavam o Falabella e a Marília aparecendo na Globo em ´Pé na cova´...  Milagres acontecem.

Mas o que interessa mesmo é a peça. O enredo trata de uma viúva que vive de arrumar casamentos ( Dolly Levi  / Marília Pêra ), e que foi contratada por um comerciante rico e avarento da pequena cidade de Yonkers (  Horácio Vandergelder / Miguel Falabella ). Esse Horácio é um tipo absolutamente detestável, grosseiro, humilha os empregados e não permite que a sobrinha que vive em sua casa tenha um namorado. Mas ele também se mostra um homem solitário e de certa maneira até sensível, e busca alguém para compartilhar sua vida. Ou seja, para um ator como o Miguel Falabella, é um prato cheio. Os momentos em que o personagem é mau, o Falabella faz com um cinismo absoluto, e nos momentos de ternura do personagem, parece uma criança em cena, de tão inocente.  Já Dolly Levi, como disse no início, é uma viúva casamenteira, mas não só isso, é uma verdadeira ´lady charlatã´, sempre com uma carta na manga, com um ´jeitinho´  para resolver as situações mais difíceis. E claro, a Marília Pêra dá um show, exprimindo as palavras como quem estivesse sempre em dúvida, mas na prática sendo a senhora de todas as situações, já que ela manobra os outros personagens para que façam exatamente o que ela quer. Também é patente a cumplicidade entre os dois, Miguel e Marília, sendo que a gente percebe desde o início a veneração que o Falabella tem pela parceira. 

Mas não é só isso... Os outros atores também vão muito bem. Quem mais me impressionou foram o Frederico Reuter, que no papel de Cornélio, um dos funcionários de Horácio Vandergelder, também dá um show, tanto na parte musical quanto na atuação, a Alessandra Verney, no papel de Irene Molloy, e Ricardo Pêra, que atua como o maitre Rudolph Reisenweber e que agora, lendo o programa, descobri ser filho da Marília Pêra.  

Não vou retomar o enredo aqui, mas a cena do jantar, com a entrada da Dolly no restaurante é daquelas cenas de filme de Hollywood, ou melhor, da Broadway, com a longa escadaria por onde a estrela desce triunfante. E nada mais coerente, já que o subtítulo da peça é ´Um musical da Broadway´.  Ou seja, o que é entregue ao espectador é exatamente o que a gente espera de um grande musical. Perfeito nos mínimos detalhes, nas danças, nas marcações, mas de modo nenhum é um espetáculo frio, técnico. A gente se diverte e vê que os atores estão ali com prazer, se divertindo também. 

Musicalmente, apesar de ser um espetáculo já clássico, não me impressionou muito. A única música que reconheci foi justamente ´Hello, Dolly´, que nos primeiros acordes me remeteu à versão do Louis Armstrong. Já as outras músicas fizeram seu papel em cena, mas não deixaram marcas nos ouvidos...  Já o cenário é muito interessante, é uma superfície vertical que faz as vezes de moldura para as várias mudanças de cena. Nessa superfície estão aplicadas texturas, volutas, frisos, que me remeteram às notas de dólar. Mas dessa grande superfície também saem alguns volumes, que se transformam em escadas, por exemplo. E ao fundo, conforme o desenrolar da história, há projeções que remetem a noites de luar, estação de trem... Muito bem bolado. 

O figurino também chama a atenção. Foi criado pelo Fause Haten, e mesmo eu, que não sou exatamente alguém que acompanha a moda, percebo a diferença de qualidade entre o trabalho dele e o que estamos acostumados a ver por aí. Todos, absolutamente todos os figurinos de muito bom gosto, claro que são roupas de época, baseadas em algo que já vimos, mas a Marília Pêra estava com um figurino de saia estampada e colete listrado que ao mesmo tempo que instiga por quebrar uma ´regra´  de não misturar listras e estampas, era absolutamente harmonioso. 

Enfim, saí absolutamente satisfeito com o espetáculo que assisti. Estava até esquecendo de dizer, mas a música é executada por uma pequena orquestra, localizada no fosso, e há também um grande coro de bailarinos, sendo um deles se destaca ( Fabio Yoshihara ) que além de ser de origem japonesa também é careca, o que também gera alguns momentos de piadas visuais. 

Um comentário final: eu sempre colecionei os programas das peças que assisto, muito antes de começar a escrever esse blog. Isso ajuda a relembrar os momentos que assisti, e é claro que eu não conseguiria fazer esse texto sem recorrer ao programa. A única coisa chata é que dessa vez o programa, luxuoso, com impressão em papel de alta gramatura, a quatro cores, verniz... custou exagerados 20 reais, e ainda assim veio com propaganda. Mas tá valendo... 






Alô Dolly
Com Miguel Falabella, Marília Pêra, Frederico Reuter, Alessandra Verney, Ricardo Pêra
Direção e versão brasileira: Miguel Falabella
Texto de Michael Stewart
Músicas e letras de Jerry Herman
Teatro Bradesco, até 07/jul/13

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