segunda-feira, 20 de maio de 2013

Razões para ser bonita

´Razões para ser bonita´ também foi complicado para assistir, mas no fim deu tudo certo:


Essa é uma imagem da internet, não havia programas disponíveis...


O erro cometido dessa vez foi que o ingresso havia sido adquirido em um desses sites de compra coletiva, mas para outra data... felizmente a moça da bilheteria foi muito simpática e disse que daria um jeitinho, como realmente deu. Então a viagem não foi perdida, o voucher foi revalidado, e tudo bem.


Antes de falar da peça propriamente dita, um desabafo: assistir espetáculos com atores de sucesso, da Globo, é um problema...  é nítida a diferença de comportamento do público. Não que em outras peças não haja alguém inconveniente, que acha que pode ficar comentando como se estivesse em sua sala de estar, ou coisa assim. Mas nessas peças com ´globais´, a coisa é escancarada. Eu sentei numa das últimas fileiras do bloco central de poltronas, e ao meu lado estavam duas moças. A preocupação delas era postar no facebook e mostrar para os outros que estavam lá, além de ficarem conversando entre si. Na poltrona da minha frente, a mesma coisa, e era comum ver a luz azulada dos smartphones da platéia o tempo todo! Uma total falta de respeito com os espectadores, e principalmente com os atores em cena. Com as duas que estavam ao meu lado, não teve jeito, tive que pedir a elas que ficassem quietas.  Não vou ficar fazendo considerações teóricas sobre o assunto, mas...  é teatro! As pessoas estão ali, em carne e osso! Os atores, pelo menos, eu sei que estavam, mas boa parte do espectadores só estava ali como ´perfil público do facebook´. Tanto que depois do espetáculo vi gente tirando fotos ao lado dos ´atores´  em um daqueles displays recortados com fotos em tamanho real, afinal, pra essas pessoas a imagem é o que vale mesmo... 

A peça está em cartaz no Teatro Shopping Frei Caneca, que obviamente, fica no centro comercial de mesmo nome. Então dá pra usar o estacionamento do próprio shopping, o que facilita muito o acesso pra quem vai de carro, desde que não seja em época de compras de natal, claro. O foyer do teatro ainda está sendo reformado, antes havia um espaço num piso inferior onde existia a bilheteria e a bomboniere, e depois a gente subia uma escada que dava acesso ao teatro propriamente dito. Agora esse espaço inferior não existe mais, vamos direto para o piso de acesso ao teatro. O problema é que não há mais escadas rolantes, o acesso é só pela escada de incêndio ou pelos elevadores, não  há opção de chegar por escadas rolantes. Na saída, com todo mundo querendo ir embora ao mesmo tempo, a coisa complica bastante, e pelo jeito, essa é a situação definitiva. O que parece ser ainda temporário é o balcão da bilheteria, ainda não está pronto. Lá dentro o teatro continua o mesmo, não houve nenhuma modificação. É um teatro confortável, apenas o bloco de poltronas que existe nas laterais, ao fundo, é que não permite uma boa visão do palco. Em outras ocasiões já sentei ali, e a visualização é péssima, mas de resto, dá pra ver bem o palco em praticamente qualquer lugar. E as poltronas são confortáveis.

A peça é uma comédia, mas não daquelas escrachadas, é mais uma comédia de situação do que de piadas. A história se desenvolve a partir de uma fofoca: Carla ( Aline Fanju ) ouviu uma conversa onde Greg ( Gustavo Machado ), marido de sua amiga Steph ( Indrid Guimarães ) diz a Leo ( Marcelo Faria ), marido da Carla, que acha o rosto de Steph comum. Daí é claro que Carla foi correndo contar isso à amiga, que se sentindo desprezada pelo seu namorado, resolve terminar com ele. Mas isso a gente só vai descobrindo pela discussão entre os dois, naqueles joguinhos femininos onde a conversa é levada de tal maneira que o homem é sempre culpado, não interessa o que ele responda. Talvez seja a cena de abertura, onde Steph vai colocando Greg contra a parede, a melhor cena da peça, com os melhores diálogos. As falas de Steph vão se sucedendo numa armadilha da qual Greg não consegue se livrar, e cada resposta dele só vai piorando as coisas. A Ingrid Guimarães é a grande estrela da peça, sem dúvida, e capricha na entonação de todos os palavrões imagináveis, arrancando muitos risos da platéia.

Mas a partir daí o tema da peça já deixa de ser a questão da beleza, como parecia ser de início, e passa a ser mais uma comédia sobre os atritos entre homens e mulheres, baseada nos estereótipos mais banais: a dominação das mulheres sobre os homens a partir do sexo, a união entre os homens e a competição entre as mulheres, as diferentes visões de mundo entre os sexos...  o exemplo perfeito dessa situação é o personagem do Marcelo Faria, o Leo: um homem casado que posa de 'macho alfa', mas que se submete aos caprichos da mulher.  Esse personagem, Leo, é o mais rasteiro, em todos os sentidos: é um homem que só está preocupado com o próprio prazer, um predador sexual, que só vê a aparência. E como ele passa boa parte do tempo em cena, me parece que o texto ´se rebaixa´  para ficar no nível desse personagem.  Como já disse, a peça deixa de ser uma reflexão sobre a importância que se dá à beleza física e passa a ser uma comédia sobre as incompreensões entre homens e mulheres.

Não que a encenação não tenha qualidades, acabei de criticar o personagem Leo, mas não vejo motivos para criticar o ator Marcelo Faria interpretando esse personagem. Não que seja algo complexo, complicado, mas a atuação dele é convincente, o problema não está na atuação, está no texto mesmo. A história então vai se desenrolando principalmente em torno da separação de Greg e Steph, mas também acompanhamos a relação entre Leo e Carla, e a amizade entre os homens. Mais pro final, teve uma cena que na minha opinião se destacou, que foi quando a personagem Carla, que está grávida de Leo e é segurança da empresa onde os dois personagens masculinos trabalham, abaixa a guarda e humildemente vai buscar apoio com Greg. Este, mesmo sabendo ser ela o vetor de sua separação a trata com extrema gentileza. Acho que foi a cena mais tocante da peça, um momento de delicadeza dentro da comédia.

Uma coisa de que gostei muito foram 4 placas de acrílico transparente, que sobem e descem na parte frontal do cenário. No início da peça os atores escrevem uma palavra em cada placa: sexo - por que?  - comum  - espelho, e aí elas são içadas, mas continuam à vista. Depois, mais pro final, elas voltam ao nível do palco, e pelo menos para mim foram outros os significados percebidos nas mesmas palavras. 

Enfim, se não é nenhum espetáculo incrível, ´Razões para ser bonita´  ainda assim é um bom entretenimento. Não é uma comédia de se dar grandes gargalhadas, nem uma comédia que depois do espetáculo faz a gente parar para pensar. Mas as atuações são todas convincentes, com destaque para a Ingrid Guimarães e o Gustavo Machado.





Razões para ser Bonita
Com Ingrid Guimarães, Gustavo Machado, Aline Fanju e Marcelo Faria.
Direção de João Fonseca
Texto de Neil LaBute
Teatro Shopping Frei Caneca, até 14/jul/13

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