segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Casamento

´O Casamento, o romance proibido de Nelson Rodrigues´




Eu nunca tinha ouvido falar nesse texto do Nelson Rodrigues, o que também não quer dizer muita coisa. Mas através do programa da peça descobri que é um romance de 1966, que foi proibido à época, e que agora foi adaptado para esse espetáculo teatral. Então, depois de já ter visto a peça, fico me perguntando: ´O casamento´  é uma obra menor do Nelson Rodrigues, ou a adaptação que foi mal-feita? Porque o resultado em cena foi lamentável... E não deve ter sido por falta de recursos. A peça contou com patrocínio da Petrobrás, o folder mostra um monte de apoios de divulgação e gastronômicos, há sete atores em cena, vários figurinos... ou seja, com certeza o investimento na produção foi alto.

A minha expectativa era boa para ver essa peça, aliás, eu não sairia de casa se estivesse achando que não gostaria. Acontece que ano passado foi o centenário do nascimento do Nelson Rodrigues, e pude aproveitar para assistir várias peças dele. Duas das melhores foram as apresentadas no Sesi da Av. Paulista: 'Boca de Ouro' e  'A Falecida'. É claro que isso não faz de mim nenhum especialista em Nelson Rodrigues, aliás, não sou especialista em nada. Mas imaginando que ´O Casamento´ pode ser um texto do mesmo nível desses outros dois, bem mais famosos, me resta a conclusão de que a encenação é que foi ´culpada´  pela minha falta de interesse no que se via em cena. Ou se por acaso o romance é mesmo uma obra menor do autor, então deveriam ter dado uma boa enxugada no texto...

Todos os elementos ´clássicos´ da obra do Nelson estão presentes: homossexualismo, hipocrisia, traição, incesto...  Mas nada digno do choque que a obra dele causou a 50 anos atrás, e que continua causando. Fui testemunha disso, do impacto que ´Toda nudez será castigada´  ainda tem, quando vi essa peça também em 2012, no Sesc Consolação, numa montagem do Antunes Filho. Mas essa adaptação de ´O casamento´ não tem nem um décimo da força expressiva das outras que citei aqui. As outras foram encenações viscerais, fortes, verdadeiras. O que assisti ontem estava mais para uma farsa.

De início, até que é interessante. O cenário é quase vazio,  com uma estrutura metálica que rebaixa o pé-direito de parte do palco. Dessa estrutura metálica pendiam cortinas pretas, semi-transparentes, formando duas superfícies verticais a 90° entre si, que delimitavam um espaço menor, no caso a sala do personagem principal, Sabino ( Renato Borghi ). Durante a encenação essas cortinas são recolhidas ou abaixadas diversas vezes, assim como outras, e com isso configuram os vários espaços. Disso eu gostei, achei uma boa sacada.

Essas cortinas também servem para ocultar parcialmente a nudez dos atores em várias cenas. Mas se alguém for ao teatro para ver a Diana Bouth nua ( uma ex-modelo, em seu primeiro trabalho como atriz ), ainda assim é perda de tempo, por causa das cortinas. Além do mais, pelo menos para o meu gosto ela tem as pernas muito finas... 

Aliás, por falar em nudez, no início da peça a gravação que pede para que a platéia desligue os celulares diz que deseja a todos orgasmos múltiplos, e que vamos assistir a uma comédia erótica. Comédia não é, há raros momentos em que se pode esboçar um sorriso. Sobre o erotismo em cena, há sim muitas cenas de nudez, principalmente na parte final, mas há pouco de erotismo, de sensualidade. Novamente comparando com as outras encenações de textos do Nelson Rodrigues, em todas há uma carga de tensão sexual, de pulsão, de paixão. Em ´O Casamento´ não. Acho que a única exceção é quando o personagem Antônio Carlos ( Daniel Alvim ) deflora Glorinha ( Diana Bouth ). Então, assim como não dá para dizer que a peça é uma comédia, também não dá para chamar de erótica.


Enfim, não vejo razão para continuar a escrever sobre um espetáculo do qual absolutamente não gostei. O cenário é bem-bolado, os figurinos são meio esquisitos, com roupas que tentam ser referências modernas aos modelos de época, mas é claro que não é esse o problema, mesmo sendo muito estranho o figurino do personagem Dr. Camarinha ( Elcio Nogueira Sanchez )  - parecia uma morsa andando pelo palco, com um terno ´peludo´...  A iluminação é correta, faz os destaques necessários e esconde parcialmente os momentos de nudez, os atores estão todos no mesmo registro, não destoam entre si, inclusive a ex-modelo estreante nos palcos. Mas o resultado final da peça é desagradável, parece que estamos vendo várias esquetes com os mesmos personagens, com encadeamento entre elas, claro, mas sem impacto, sem vida, sem graça. Acho que não havia mais de um quarto das poltronas ocupadas quando o espetáculo começou, e pelo menos cinco outras testemunhas não conseguiram ficar até o final e saíram antes. Fazia tempo que eu não via gente sair assim no meio da peça.

Sobre o Teatro, o Tuca é um dos espaços mais tradicionais de São Paulo, e as suas paredes em tijolo à vista são um testemunho do que já aconteceu por lá. O acesso é fácil,  tanto de carro quanto de ônibus. Para quem vai de carro, nas noites de sexta-feira é difícil de estacionar, todas as vagas das ruas próximas ficam tomadas pelos alunos da PUC. Mas nas noites de sábado e domingo é tranquilo, eu só evito parar bem perto do teatro para não ser achacado pelos inevitáveis flanelinhas. Lá dentro a sala oferece um conforto razoável, mas desde que não se sente no fundo. O teatro é muito comprido, sentar lá atrás faz com que se veja o palco muito de longe. E nessa visita ao Tuca foram mais de duas horas de peça sem intervalo, mas acho que nem tenho como comentar muito sobre o conforto que o teatro oferece. O pior não era nem a poltrona um tanto dura, nem o espaço para as pernas. Quando a gente não gosta do que está vendo, é difícil ficar confortável seja onde for.




O Casamento
Com Renato Borghi, Daniel Alvim, Diana Bouth, Elcio Nogueira Seixas, Maurício de Barros, Regina França e Vera Bonilha
Direção de Johana Albuquerque
Adaptação de Johana Albuquerque, sobre obra de Nelson Rodrigues
Teatro Tuca,  SP, até 04/jul/13

Um comentário:

  1. muito bom o texto e o blog parabens, sobre a peça, acho que houve um esforço muito grande da diretora que pensou nos minímos detalhes de cenário para não chocar o público e concordo com voce na área de figurino....lamentável

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