sábado, 18 de maio de 2013

Esta Criança

´Esta Criança´ deu trabalho para assistir:




Não sei que ´tilt´  deu no meu cérebro, que eu fui para o teatro com a certeza de que o espetáculo era no Sesc Belenzinho. Fui direto do escritório, cheguei com bastante antecedência, aproveitei para ir até a ´Comedoria´ e fiquei enrolando por lá...  comi tranquilo, calmo, e na hora de pagar, ouvi a atendente falando que ´Edukators´, estava esgotada... Aí é que me deu o estalo: ´Edukators´ sim estava em cartaz no Sesc Belenzinho, mas eu não consegui ingresso para essa peça, e nesse dia o que eu iria assistir era ´Essa Criança´, no Sesc Vila Mariana! Saí correndo, e como estava no contra-fluxo do trânsito da sexta-feira, consegui chegar a tempo. Bem em cima da hora, mas consegui...

´Esta Criança´  é um trabalho da Companhia Brasileira de Teatro, sediada em Curitiba. Eu já havia visto dois espetáculos deles, também nas unidades do Sesc: ´Vida´, em 2010, e ´Isso te Interessa?´ em 2012. Então, se estava voltando é porque gostei...   Dessa vez a Companhia contava também com a participação da Renata Sorrah, super-conhecida da tv, e quem eu também vi em cena como ´Lady Macbeth´, em 2010.  Ou seja, eu já sabia que iria encontrar atores de primeira linha.

E foi isso mesmo o que aconteceu. A peça é dividida em pequenas cenas, onde os personagens não tem nome, são apenas ´pai´,  ´filho´, ´senhor´,  e por aí vai. O cenário é só um tablado inclinado, na parte direita do palco, com duas paredes ao fundo e um teto com vazios por onde passa a luz, tudo no mesmo tom de azul claro ( depois, durante o desenrolar da peça, as paredes que formavam essa espécie de ´caixa´ se mostraram paredes móveis ). Sobre esse tablado existiam uma poltrona, duas cadeiras simples, uma mala... pouquíssimos elementos. Eu dei sorte por sentar mais à direita do bloco central da platéia, pois assim conseguia ver as cenas mais de perto, já que quase tudo acontecia dentro dessa ´caixa´. Mesmo quando os atores utilizaram o corredor da esquerda da platéia durante a peça, também consegui ter uma boa visualização.

A encenação não dá um destaque especial à Renata Sorrah, ela é mais uma atriz em cena. Talvez a atriz que participe do maior número das pequenas histórias que acontecem no palco, mas não tenho certeza disso agora... ou ela, ou o Ranieri Gonzalez. Em todo caso, há pelo menos três ou quatro cenas em que ela não participa. O esquema é sempre o mesmo, há um diálogo, uma cena que quando se resolve, um ou dois dos atores saem de cena, às vezes até pela platéia mesmo. E daí entra outro, pela lateral do palco, por exemplo,  e quem se manteve no  palco instantâneamente vira outro personagem, e começa uma nova ação. Em alguns momentos há também uma troca de figurinos, que acontecem no palco. Mas o que faz mesmo a mudança são os atores, não os figurinos.

Sinceramente, as atuações me impressionaram mais do que o texto, de um dramaturgo francês chamado Joël Pommerat. As situações propostas por ele se referem à perda, ao abandono, à falta de esperança... mas não achei nada de tão especial. Esses dramas são colocados em cena através de personagens como o aposentado por invalidez que quer retornar ao trabalho e é desprezado pelo filho adolescente, ou da jovem mãe que quer dar seu filho a um casal de vizinhos pois não se vê em condições de educar uma criança. Há também um certo humor mórbido na cena em que uma mãe tem que comparecer ao necrotério, junto com uma amiga, para reconhecer um corpo que pode ser de seu filho. Após muita hesitação, quando finalmente vê que não é seu filho que está ali, e por isso se sente extremamente feliz e aliviada, vê que é o filho da amiga quem está no necrotério....   Há  também certos ´maneirismos´, digamos assim, da Companhia Brasileira de Teatro. Nessa peça, assim como nas duas outras que assisti do grupo, há momentos de ´karaokê´, em que os atores cantam músicas em inglês, com um microfone. Até hoje eu não fui capaz de compreender  a razão disso, não me pareceu acrescentar nada à encenação. Mas como são sempre intervenções curtas, não chegam a atrapalhar. E dessa vez, ao contrário das outras duas, não houve nudez, o que parecia ser também uma característica das encenações do grupo, a julgar pelas duas peças anteriores.

Resumindo, não é uma peça ´fácil´, palatável, de uma história com começo, meio e fim. A encenação é fragmentada, são pequenas histórias que se desenvolvem autônomamente, sem ´plim-plim´  pra anunciar que um bloco terminou e vai começar outro. Os temas não são também os mais leves, mas quem for assistir vai sem dúvida ver um teatro de primeira, desses que dá gosto da gente ver os atores em cena.

Aliás, acho que o teatro do Sesc Vila Mariana é o melhor da rede Sesc, e sem dúvida um dos melhores de São Paulo, no que diz respeito ao conforto da platéia. As poltronas são ótimas,  há um espaço razoável entre os corredores, e o teatro não é muito grande, mesmo quem senta mais ao fundo consegue ver bem. Em outras ocasiões eu  já fiquei no mezzanino, aí a visão é um pouco prejudicada, mas na platéia, especialmente se conseguir um lugar no bloco central, é ótimo. O problema para quem chega de automóvel é só o estacionamento, se não chegar com muita antecedência não há como conseguir vaga no próprio Sesc, e pelo fato de haver um shopping popular ao lado, não é fácil estacionar na R. Pelotas. Dessa vez, mesmo o pequeno estacionamento particular em frente ao Sesc estava lotado.





Esta Criança
Com Renata Sorrah, Giovana Soar, Ranieri Gonzalez e Edson Rocha
Direção de Márcio Abreu
Texto de Joël  Pommerat
Sesc Vila Mariana, até 09/jun/13 

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