Havia apenas um pequeno folder disponível. E eu perdi... |
Nem foi a primeira visita desse ano a esse espaço, já havia estado lá para assistir ´Jocasta´. Mas dessa vez a experiência seria totalmente diferente, pois era uma comédia musical. É claro que o fato de eu ser fã de música brasileira me fez ter uma boa vontade inicial com a peça, de já olhar com bons olhos a oportunidade de ter alguns clássicos interpretados ao vivo. Mas acho que mesmo quem não seja fã como eu irá se divertir com a peça.
Praticamente não há cenário, apenas alguns objetos de apoio - uma mesa com alguns adereços, jarra e copos para água. À direita, um suporte para teclado eletrônico, com um pequeno painel em frente, com letras desenhadas em purpurina mostrando o título da peça. Primeiro temos uma gravação em que a platéia é orientada em relação ao comportamento que deve ter, afinal somos todos ´macacas de auditório´ em um dos estúdios da Rádio Nacional, e estamos prestes a ver as grandes estrelas da música brasileira dos anos 30 a 60. E a platéia ( predominantemente composta por pessoas da 3a idade ), já entra no clima do espetáculo. O teatro realmente vai se transformando em um auditório musical, com a introdução feita pelo ´maestro´, um jovem tecladista muito simpático, Jonatan Harold. Em seguida vem o cantor e mestre de cerimônias Carlos Moreno, cujo nome do personagem, sinceramente, eu não lembro mais - e que não tem a menor importância.
O Carlos Moreno, com o tom tímido e simpático que a gente conhece de muitos anos de ´garoto Bombril´, convida as duas cantoras que vão dividir o palco com ele, as atrizes Mira Haar e Patrícia Gasppar. E a partir daí, é literalmente só diversão, com a platéia realmente fazendo parte do espetáculo.
Eles vão apresentando versões de grandes clássicos da música brasileira da Era do Rádio, em blocos divididos por temas ou estilos: marchinhas, sambas, canções de dor-de-cotovelo, músicas sertanejas.... e aí vem uma verdadeira constelação da música brasileira: Noel Rosa, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Lupicínio Rodrigues, Paulo Vanzolini, Tom Jobim, Vinícius de Moraes... só que em versões muito especiais, divertidíssimas, com ´cacos´, interpretações ao mesmo tempo respeitosas ( nada de clássicos em versão ´dance´ ou ´funk´ ), porém buscando sempre o lado divertido. Assim, até as canções de fossa ficam leves, e muito disso se dá pela encenação mesmo, talvez mais do que pelas interpretações musicais. Eu fiquei fascinado especialmente pelos ´comentários´ feitos pela Patrícia Gasppar através dos gestos, mesmo quando ela não estava cantando, um show à parte de delicadeza e ironia. Aliás, acho que as palavras ´delicadeza´ e ´ironia´, que no país brutalizado em que vivemos são praticamente antônimos, nesse espetáculo se combinam muito bem. É um espetáculo delicado, emotivo, suave, mas que ri através das entrelinhas, da sutilezas das interpretações, do ridículo das histórias de amor, mas nunca com agressividade e sim com um olhar terno em relação aos acontecimentos.
Até agora não falei quase nada da Mira Haar. Alguns dos melhores momentos vêm da parte dela, que por ser mais velha tem um aspecto mais comportado, mas que solta uns rompantes hilários. Me diverti muito, ouvi boa música, e acho que como todos ali presentes, saí mais leve do espetáculo. Aliás, no final todos se colocaram à disposição da platéia para receber os cumprimentos, em mais um gesto muito simpático, assim como em ´Sempre teremos Paris´. Quem sabe isso não vira uma tendência nos espetáculos, e acaba um pouco essa coisa de ´culto à celebridade´ para parte da platéia - especialmente quando há atores da Globo no elenco.
Não sei se há muito público para esse tipo de musical ´de bolso´, mas a peça vai continuar em cartaz, agora de quartas e quintas-feiras ( eu assisti na última sexta-feira da temporada em fins de semana ). Mas garanto que quem for lá no Eva Herz não vai se arrepender.
Florilégio 2, O Musical
Com Carlos Moreno, Mira Haar, Patrícia Gasppar e Jonatan Harold
Direção de Elias Andreato
Teatro Eva Herz, SP, até 05/jun/14
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