sexta-feira, 14 de março de 2014

Il Trovatore

Primeira ópera do ano no Municipal de São Paulo: ´Il Trovatore´:



Mais uma vez fiz a assinatura da temporada lírica do Municipal, e pela primeira amostra do ano, sei que fiz a coisa certa.

´Il Trovatore´, ao menos para mim, não era uma ópera conhecida. O único trecho que me recordava dela era o ´Coro dos soldados´, no início do 2o ato. Os trechos com grandes coros costumam mesmo ser as minhas passagens favoritas, sempre fico impressionado quando se tem a voz humana em uníssono.  E não conhecer outras passagens, nem mesmo a o enredo da ópera, às vezes até que tem suas vantagens, faz com que a gente tenha o ´frescor´  da primeira audição, foi uma ótima experiência.

A  história é uma tragédia de folhetim: uma cigana ( Azucena )  viu sua mãe ser morta na fogueira, acusada de bruxaria. Para se vingar, ela rapta o filho do conde que ordenou a morte de sua mãe, para que o bebê seja também queimado numa fogueira. Mas cega pela raiva, ela queima o próprio filho! ( E isso é só o começo... ).  Ela então cria o bebê que raptara como se fosse seu filho, e ao se tornar adulto, ele ( que é Manrico, o Trovador ) se torna rival do Conde de Luna ( irmão do bebê raptado ). Ambos disputam não só o poder como também o amor de Leonora.

Para não se casar com o Conde de Luna, Leonora decide ir para um convento. Ambos os rivais tentam impedir que isso aconteça, mas quem leva a melhor é Manrico, e Leonora parte com ele. Mas andando pela floresta, Azucena ( a cigana mãe do Trovador Manrico ) é presa pelos soldados do Conde de Luna. Ela então é reconhecida como quem sequestrou o irmão do Conde, e além do mais, descobrem que é mãe de Manrico. Obviamente, ela é condenada à morte.

No palácio onde o casal Manrico e Leonora se encontrava ( não me pergunte como o filho da cigana tem um palácio! ), o casamento já está para acontecer quando chega um mensageiro dizendo que a mãe de Manrico será executada pelo Conde. Manrico então sai para salvar a mãe, mas é preso pelos soldados do Conde. Leonora, então, para salvar o amado decide prometer ao Conde que casará com ele, desde que a vida de Manrico seja poupada, claro. Mas ela não pretende cumprir a promessa, e toma veneno.  Daí tem um encontro com Manrico no calabouço, e ela revela seu plano a ele e desfalece, sob o efeito do veneno. O Conde de Luna vê que foi ludibriado, e executa Manrico. Nisso, a cigana ( que estava o tempo todo na mesma cela que o filho, mas dormindo ), acorda e vê que Manrico foi morto, e então revela ao Conde de Luna a verdade: ele acabara de matar o irmão, o bebê que ela havia sequestrado muitos anos atrás...  ou seja, dramalhão total.

Dessa vez o cenário não era tão impactante quanto das outras óperas no Municipal. Eram duas paredes nas laterais do palco, mas articuladas, que giravam em torno de um eixo que permitia que elas ficassem perpendiculares ao palco, ou mesmo inclinadas em relação à frente do palco. A da esquerda era totalmente devassada, com grades, e os seus três patamares eram interligados por escadas.  Já a parede da direita era mais fechada, e incrustada nela havia o que poderia ser uma sacada de um palácio. Ao fundo havia uma ´floresta´,  de onde se viam os troncos das árvores, e ao centro do palco, um buraco que fazia as vezes de fogueira.

Nessa noite o que ficou em primeiro plano foi realmente a música. Não entendo ´nada de nada´ em relação à ópera, mas deu pra perceber claramente que nessa quinta-feira nos foi proporcionada uma experiência musical superior a todas as outras do ano passado. A primeira a deixar uma ótima impressão, logo de início, foi a Marianne Cornetti ( Azucena ).  Depois foi a vez da Susanna Branchini ( Leonora ), numa cena no balcão.  Entre os homens, achei que o Alberto Gazale ( Conde de Luna ) foi apenas correto, enquanto o Manrico ( Stuart Neill ) arrasou. E mais do que qualquer performance individual, acho que dessa vez a integração entre o elenco e a orquestra estava perfeita. Tudo soava ´redondo´,  natural, mais do que nas outras récitas do ano passado. Que continue assim!




PS: No final, uma nota triste: na saída, o Salão Nobre do teatro estava sendo arrumado para o velório do Paulo Goulart, e inclusive o carro com o corpo já estava esperando, numa das entradas do Municipal. Fica a  homenagem a um ator que não cheguei a ver em cena, apenas a ouvi-lo como a voz de Deus, na estréia de ´Evangelho Segundo Jesus Cristo´, do Saramago, muitos anos atrás. 




Il Trovatore
Com Stuart Neill, Marianne Cornetti, Alberto Gazale, Susanna Branchini 

Ópera de Giuseppe Verdi, com libreto de Salvatore Cammarano
Regência de John Neschling
Theatro Municipal de São Paulo, até 22/mar/14

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