sábado, 10 de agosto de 2013

Rock In Rio

Mais uma vez, um musical. Esse nem estava na minha lista de prioridades, mas apareceu uma oportunidade de ir assistir, e lá fui eu mais uma vez ao Auditório Ibirapuera:



E não me arrependi nem um pouco, foi uma surpresa bastante agradável. Pra começar, ir ao Auditório Ibirapuera é sempre um prazer. Como arquiteto, nem preciso dizer da admiração que tenho pela obra do Niemeyer. E o velhinho mais uma vez acertou em cheio, é incrível ver a simplicidade com que a obra foi composta. Pra chegar a esse nível se síntese, de domínio espacial, só mesmo com muito, muito tempo de prancheta, e claro, um talento absurdo.

Lá dentro, além do foyer lindo com a escultura da Tomie Ohtake, a sala de espetáculos, por onde a gente chega através de uma rampa helicoidal, também é muito interessante. É um espaço muito mais largo do que profundo, com um palco gigante, uma boca de cena que eu acho que não tem igual em São Paulo. E o espaço para a platéia também é generoso, com boas poltronas, bom espaço para as pernas. Eu já havia visto vários shows nesse auditório, mas nunca uma peça de teatro.  E o fato de ser um musical, com bastante gente em cena fazendo o coro, fez com que o palco não ficasse ´sobrando´, o espaço foi bem ocupado durante a encenação.

Logo na primeira cena aparece o protagonista Alef (  Hugo Bonemer ), interpretando ´Pro dia nascer feliz´, do Cazuza e Frejat. Em seguida vão aparecendo outros atores caracterizados como Freddie Mercury, Elton John, Tina Turner... a primeira impressão foi de que assistiria a uma série de ´covers´  dos artistas que se apresentaram nas várias edições do festival. Mas não foi bem assim... 

A história trata do encontro de Alef, um universitário problemático, que deixou de emitir qualquer som desde que seu pai morreu, vítima da ditadura, 15 anos antes. Ele mora com a mãe ( Glória / Lucinha Lins ), professora de Literatura na mesma universidade onde seu filho estuda. Alef passa todo seu tempo livre ouvindo música, é a fuga dele da realidade. Em paralelo, somos também apresentados a Sofia ( Yasmin Gomlevsky ), filha do publicitário Orlando ( Claudio Lins, que só agora imaginei que poderia ser filho da Lucinha Lins  - e é ), que tem um desvio oposto:  desde que sua mãe, que era cantora, desapareceu, ela não suporta mais ouvir música. Daí fica na cara de que no final da história os dois jovens vão se encontrar e complementar um ao outro, e talvez mesmo os pais também acabassem formando outro casal ( mas disso o roteirista nos poupou ). Enfim, a história é uma bobajada que só serve mesmo para costurar os números musicais. O personagem Orlando  ( alter-ego do Roberto Medina, criador do Rock in Rio ), é um ser humano quase perfeito, um pai preocupado com a filha, que muito mais do que buscar o lucro, trabalhar para propiciar ao Brasil um momento de alegria depois da decepção da rejeição da emenda das diretas no fim da ditadura, que no momento em que fraqueja é levado a recomeçar pela lembrança das lições que seu pai lhe ensinou... Orlando é alguém que vai atrás de seus objetivos, sempre com ética, com altos ideais...  espero mesmo que o Roberto Medina seja tão bom-caráter quanto o personagem Orlando, mas para mim, soou como algo ´chapa-branca´, puxa-saquismo demais...  enfim, até mais do que em outros musicais, a história em si é uma bobajada.

Mas no meio disso tudo, tem dois personagens que se destacam: Marvin, interpretado por Ícaro Silva, e Geraldo, por Caike Luna. Marvin é um colega de Alef, safo, desbocado, com respostas rápidas e irônicas. Da boca do personagem Marvin saem as melhores piadas do texto, e é claro, com esse nome ele interpreta ´Marvin´, que fez sucesso no Brasil na versão dos Titãs. Já Geraldo é o assistente gay do Orlando, um homossexual daqueles de programas de humor popular: exagerado, escrachado, dramático... mas com muito carisma, e com provocações dirigidas ao deputado Marcos Feliciano, tratando da ´cura gay´, que eram cacos muito bem inseridos nas falas. 

Outra coisa: quando eu digo ´personagens que se destacam´, é porque são os que realmente abrem espaço para os atores brilharem. Os outros são meros instrumentos, são personalidades simplórias: o colega de turma drogado, a trabalhadora explorada na loja de discos, a menina sem opinião própria que busca se inserir na turma seguindo os outros, o garoto que esconde sua predileção musical para não ser ridicularizado pelos amigos...  enfim, são personagens que estão na faculdade, mas que poderiam perfeitamente compor uma dessas ´sitcoms´  americanas passadas no ´high-school´. O que por outro lado ajuda na identificação da platéia com a situação apresentada no palco, já que o público, ao contrário do que se vê normalmente nos espetáculos teatrais, na sua maioria era bem jovem.

Os números musicais, que aliás são muitos, na média são bem executados. Há uma pequena banda nos fundos, à esquerda do palco, que obviamente dá suporte ao que acontece em cena, mas os músicos não interagem fisicamente com os atores. Alguns números são muito bem encaixados na trama, como ´Primeiros erros´, do Kiko Zambianchi, e ´Ovelha Negra´ da Rita Lee ( apesar de ser  uma escolha um tanto óbvia ).  Outros são só um jeito de registrar a passagem de alguns artistas...  mas a música que me irritou foi a versão em português de ´Don´t let the sun go down on me´, do Elton John...  a versão foi péssima, acabou com a letra. Por outro lado, foi bonito ver a Lucinha Lins cantando ´You´ve got a friend´, e principalmente ´Desesperar jamais´, do Ivan Lins e Vitor Martins. É claro que ter gostado disso também reflete as minhas preferências pessoais, mas esse blog não é de um crítico especializado que pretensamente vai analisar o que vê com neutralidade ( coisa que aliás, não acredito que aconteça ).

Enfim, a história é uma bobajada, o cenário não é grande coisa, nem os figurinos. Como os personagens são bem planos, também não há grandes atuações. Não gosto de todas as músicas que foram apresentadas, aliás, não gosto de muitas delas, mas no final das contas, a coisa toda funciona. É um espetáculo demorado, são quase três horas de encenação ( claro, há um intervalo ), mas a sensação ao sair de lá é de que vimos um espetáculo agradável, com uma história que a gente sabe desde o início como vai terminar, que é longa para dar conta de conectar tantas músicas ( aliás,  fazem a gente ouvir mil vezes o tema musical do Rock in Rio...).  Mas no final o saldo é positivo, o conjunto todo funciona bem. E na última cena tem o que acredito seja o maior momento de todas as edições do festival: ´Love of my life´,  com a projeção do Freddie Mercury num telão. Valeu.




Rock in Rio
Com Hugo Bonemer, Yasmin Gomlevsky, Lucinha Lins, Claudio Lins, Ícaro Silva, Caike Luna
Direção de João Fonseca
Texto e versões musicais de Rodrigo Nogueira
Auditório Ibirapuera, até 11/ago/13

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