Sexta-feira, noite de assistir ´Édipo Rei´ no Teatro do Sesc Belenzinho.
Estava ansioso para ver a peça, mais uma tragédia grega a ser encenada exatamente no mesmo espaço que ´Medéia´. Como já comentei sobre o Sesc, além da qualidade em geral dos espetáculos que se pode ver lá a bons preços, ainda tem outra vantagem: também para comer por lá é bastante barato. Antes de entrar na fila do espetáculo ( novamente a peça foi encenada no espaço ´alternativo´, sem lugares marcados ), parei na lanchonete que há no terceiro andar. E que aliás, é muito bonita, inclusive com mesas externas, numa varanda. Mas o que eu queria contar é o seguinte: pedi duas águas e dois pães-de-queijo, e a atendente do caixa me disse o valor: seis reais e noventa centavos. Daí eu achei que ela havia esquecido de marcar alguma coisa, e disse, olha, são dois pães e duas águas... Ela confirmou o valor, e aí é que me caiu a ficha, pedi desculpas e disse que a gente está tão acostumado a pagar muito caro, que quando ouvi o valor da minha conta, achei que ela tivesse esquecido de anotar algum ítem...
Mas indo ao que interessa, ao entrar na sala de espetáculos o que vi foi um palco circular, em madeira, com uns 60cm de altura, e recortado em alguns lugares, por onde vazava luz de baixo para cima. Parecia uma mandala. No fundo, uma construção com um portal ao centro, tudo em tons de ocre, marrom, bege. E nas laterais e na frente, três arquibancadas onde estavam dispostas cadeiras para o público. No meio dessas três arquibancadas, havia atores / músicos que tocavam tambores bastante grandes. Nós nos sentamos na arquibancada que dava de frente para o palco, bem perto do eixo da sala. O músico que estava ali, além de tocar o tambor com toda a força, também gritava num tom desesperado: ´Édipooooo.... Édipoooo´... e no palco, três mulheres já estavam em cena, duas jovens e uma mais idosa, as jovens com vestidos drapeados, e a outra com várias sobreposições de peças em tons de terra, além de um xale preto.
A primeira impressão foi de uma certa estranheza, pois no nosso subconsciente, quando se pensa em Grécia Antiga vem logo com a imagem da Acrópole de Atenas. Mas em seguida lembrei das aulas de História da Arquitetura, das aulas sobre a civilização grega, e é claro que aquilo que a gente admira tanto só se desenvolveu plenamente no Período Clássico. Então, a estranheza se tranformou em admiração pela cenografia, evitaram o efeito fácil das colunas gregas. E além do mais, a ação se passa em Tebas, não em Atenas...
É claro que como todo mundo, eu sabia um pouco da história de Édipo, da maldição de seu destino de matar o próprio pai e desposar a própria mãe. Mas não conhecia direito os detalhes, meu conhecimento não ia muito além disso. O que de certa maneira, ajuda a se interessar mais pelo que se está vendo, pois é necessário descobrir o enredo enquanto ele é apresentado - mesmo sabendo o final.
A ação é sempre entremeada pelos comentários do Corifeu, que no caso, era representada pela Fabiana de Mello e Souza. Os lamentos que ela dizia logo no início da peça já davam o tom do espetáculo, mesmo que em alguns momentos, pelo fato do palco ser circular e ela se movimentar em todas as direções, não fosse possível compreender exatamente o que ela estava falando. É claro que a coisa esquenta mesmo quando entra em cena o rei Édipo ( Gustavo Gasparani ), que é chamado para que livre a cidade de uma peste, assim como a livrou anteriormente ao desvendar o enigma da Esfinge - razão pela qual se tornou rei.
Não vou ficar comentando muito sobre o enredo, já confessei a minha ignorância em não saber de antemão maiores detalhes de uma história clássica, mas é muito fácil de encontrar tudo na internet. O que eu quero registrar aqui é a experiência teatral que tive.
Se não há nenhum ator que se destaque em um atuação ´de gala´, nem mesmo a Eliane Giardini, o nome mais conhecido do elenco, ainda assim acho que vale a pena registrar o desempenho de Amir Haddad, que interpreta o adivinho cego Tirésias. Não só pela dificuldade em dar credibilidade a ser um cego, mas pelas inflexões na voz que transmitiam o medo, a angústia, o horror de quem sabia o que viria, mas não era compreendido.
A Nina Malm ( Ismênia ) e a Louise Marrie ( Antígona ), eu só descobri que faziam personagens com nome quando peguei o programa para ver o nome dos atores e escrever aqui no blog... elas são o ´coro´, o ´povo´ que assiste a tudo mas não toma a iniciativa de nada, durante 90% do tempo. Só no finalzinho, quando Édipo está cego, é que as chama de filhas e elas vão para junto dele, e então ele pede desculpas pelo terrível futuro que elas terão por serem suas filhas. E é somente aí que elas saem da borda do palco... Acho que eu nunca tinha visto duas atrizes com papéis tão fáceis! hehehe... em compensação, há um outro ator, César Augusto, que faz o papel de Creonte, que honra o nome que tem. Ele também não fica em cena durante muito tempo, mas tem uma presença, uma altivez, que combina perfeitamente tanto com o seu personagem quanto com seu nome verdadeiro.
Enfim, se não foi uma daquelas encenações que a gente vai lembrar pro resto da vida, posso dizer sem dúvida que é um belo espetáculo teatral. Mesmo que seja só para conhecer uma das obras seminais da civilização ocidental, e que depois de Freud ficou mais conhecida como nome de complexo, foi uma bela noite de teatro. O tempo passou rápido enquanto assistia a essa peça, foram quase duas horas de encenação, e eu só me dei conta disso quando a peça acabou.
Pra finalizar, uma curiosidade: o ator que faz o Édipo, Gustavo Gasparini, é fisicamente bem parecido com o ex-marido da Eliane Giardini, o também ator Paulo Betti
Édipo Rei
Com Gustavo Gasparini, Fabiana de Mello e Souza, Eliane Giardini, César Augusto
Direção de Eduardo Wotzik
Texto de Sófocles
Sesc Belenzinho, até 31/mar/13
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