sábado, 19 de janeiro de 2013

Batalha de arroz num ringue para dois

Ontem a noite foi no Teatro das Artes, no Shopping Eldorado, em São Paulo:



Esse teatro tem a conveniência de ser dentro de um shopping, o que significa que ( teoricamente ) tem lugar para estacionar, e tem a praça de alimentação disponível...  Como eu fui direto do trabalho, o jantar acabou sendo antes da peça, ali no shopping mesmo. O que depois se mostrou como sendo uma sorte... já explico porquê.

Quando peguei os ingressos, metade da platéia já estava tomada. As poltronas desse teatro não são muito confortáveis, e o espaço para as pernas é mínimo, mal dá para se mexer. Como os assentos são divididos em 3 blocos, procuro sempre pegar poltronas junto aos corredores, para que as pernas possam ficar para fora. Não que eu seja muito alto, mas é que o espaço entre as fileiras é apertado mesmo.  Só que não havia lugares assim até o meio da platéia, e como não queria ficar muito para trás, acabei pegando uma poltrona na fila A. Dessa maneira teria espaço para esticar as pernas. Mas isso também teve seu preço...  As poltronas são ligadas umas às outras, com longarinas. E a primeira fileira já não está tão bem fixa ao piso, quando alguém se mexe os outros assentos acabam mexendo também. E do meu lado esquerdo havia alguém que não parava quieto, devia ter a tal ´sindrome das pernas inquietas´. 

Mas indo ao que interessa, que é a peça, eu estava com uma ótima expectativa. Sei que esse texto fez muito sucesso nos anos 80, mas não assisti. Vi ´Pérola´, também do mesmo autor ( Mauro Rasi ), e lembro de suas crônicas, das referências às suas ´tias´...   Ou seja, estava lá com toda a boa vontade do mundo pra me divertir. 

Porém...  a decepção começou logo que abriram as cortinas. Os dois atores apareceram com microfones, o que num teatro daquele tamanho, é absolutamente desnecessário. Pra piorar, o som estava muito mal equalizado, e qualquer coisa que eles falassem soava artificial, parecia que era dublado.  Os microfones que usavam eram daqueles que ficam colados à bochecha, sendo que o do Maurício Machado roçava na pele e fazia ruído o tempo todo... quer dizer, uma lástima.

O cenário também não era grande coisa, apenas uma cadeira, um sofá que se desdobrava em cama ( mas que até que era um item interessante ), algumas estantes e biombos que delimitavam o espaço do apartamento onde a história se desenrola.  Mas nada que demonstrasse alguma criatividade, apenas peças comuns colocadas no palco.

Como eu já disse, fui ao teatro com a melhor das expectativas, esperando diversão de primeira. Dessa vez não foi o que encontrei. As interpretações me pareceram a meio caminho entre o deboche escancarado, o caricato, e o naturalismo. Ou seja, não era nem uma coisa nem outra. As situações apresentadas de início são o que se pode esperar de um casal típico de piada, onde ela quer casar, ele pensa na liberdade perdida. Depois do casamento ele se mostra com um ciúme doentio, violento, mas que desaparece e que no resto da trama não tem mais a menor importância. Ela, para não ´perder´ o casamento, vai paulatinamente se transformando em uma gueixa ( literalmente ), sendo absurdamente submissa a ele. Nessa parte  há algumas das melhores cenas, mas nada demais... há algumas ´gags´ físicas, quase de pastelão.

O texto não é daqueles de tiradas afiadas, de ironia, nada disso, e além do mais, ´envelheceu´. Talvez para não demonstrar isso, a diretora tenha inserido comentários sobre a Dilma e o mensalão na cena em que o marido lê jornal e reclama da situação do país.  Mas com a transformação da esposa em ´japonesa´, ela serve sushi e sashimi e o marido reclama que a comida está crua, que ela esqueceu de cozinhar o peixe... talvez isso tivesse graça há 30 anos atrás, quando os restaurantes japoneses só serviam à colônia japonesa, e estavam basicamente restritos ao bairro da Liberdade. Hoje isso só passaria por ignorância das grossas... 

Enfim, desta vez não gostei do que vi. Ainda bem que o jantar foi antes da peça, porque ela não renderia assunto para uma conversa agradável à mesa.






Batalha de arroz num ringue para dois
Com Nívea Stelmann e Maurício Machado
Direção de Jacqueline Laurence
Texto de Mauro Rasi
Teatro das Artes, até 31/mar/13


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