Eu já havia visto ´Vingança, o Musical´ no ano passado, então não é o caso de escrever tudo de novo.
A peça está novamente em cartaz no CCBB - SP, com apenas duas modificações: entraram Amanda Costa como ´Rosa´ e Leandro Luna como ´Alves´, o bicheiro. Se a ´Rosa´ do ano passado, a Ana Carolina Machado, era mais bonita, achei que a Amanda Costa interpretou a personagem com mais garra. Já com o ´Alves´ acho que foi ao contrário: o Leandro Luna tem um físico mais de galã, mas deixou a desejar em algumas passagens. Mas nada que comprometesse o espetáculo.
O problema maior não estava no palco, estava atrás de mim... ontem havia um senhor de cabelos brancos sentado atrás de mim, que queria mostrar à acompanhante ( filha? esposa? namorada? amante? Não sei, mas era bem mais nova ), que ele conhecia as músicas. Então, aos primeiros acordes ele procurava dizer o título, e depois quando a interpretação era mais próxima das gravações, cantar junto. Quando não conseguia cantar, ficava batucando com o pé... coisa pra tirar a concentração de qualquer um. Eu fiz ´shhhh´ algumas vezes, mas não resolveu. Só que essa história me garantiu um momento de risada depois: nós estávamos saindo do CCBB, já no átrio central, quando eu estava falando que estava a ponto de virar para o cara e dizer ´Eu também sei cantar, que ver?´. Só que eu não contava que uma velhinha que estava por lá iria responder ´Eu quero!´. Todo mundo deu risada, inclusive eu!
´Vingança, o Musical´
Com Amanda Costa, Andrea Marquee, Anna Toledo, Jonathas Joba, Leandro Luna, Sergio Rufino
Direção de André Dias
Idealização e texto de Anna Toledo
Músicas de Lupicínio Rodrigues
CCBB, SP, até 18/abr/14
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
Vingança - o Musical ( Retorno )
Marcadores:
2014,
Amanda Costa,
André Dias,
Andrea Marquee,
Anna Toledo,
Jonathas Joba,
Leandro Luna,
Teatro CCBB
Local:
São Paulo - SP, Brasil
domingo, 23 de fevereiro de 2014
A Toca do Coelho
De volta ao Teatro Faap, e mais uma vez numa peça com o Gianecchini:
Sábado à tarde, a cidade relativamente tranquila, mas antes mesmo de chegar ao teatro tive uma surpresa: o valor do estacionamento na Faap passou para absurdos R$ 40,00! Eu sempre soube que estacionar por lá era caro, mas me recusei a pagar esse valor. Por sorte o jogo no Estádio do Pacaembu só começaria depois, as ruas ainda estavam bem tranquilas, consegui vaga facilmente. E agora vendo as postagens antigas do blog e o extrato do ´Sem Parar´, vi que paguei R$ 20,00 em maio de 2013 ( quando fui à Faap assistir ´Quase Normal´), e ´apenas´ R$ 17,00 em setembro de 2013 ao assistir ´Cruel´! Como pode ter havido um aumento desses em apenas 5 meses? Simplesmente absurdo.
Mas de qualquer maneira isso não seria motivo para estragar a noite que estava só começando. Aliás, de sábado há duas sessões do espetáculo, sinal de que está fazendo muito sucesso. Essa foi mais uma peça com o Reynaldo Gianecchini, e de novo, a presença dele provocava suspiros na parte feminina da plateia. Gente gritando quando ele entrou no palco, assovios... uma pena que isso aconteça. Na minha opinião, quem vai ao teatro com esse espírito de ver o ´ídolo´, acaba só vendo o ator, e não o personagem, e não aproveita o espetáculo como deveria. De certa maneira, acho que isso desqualifica o trabalho dele como ator, acaba sendo só um rosto/corpo bonito. E sem dúvida ele não merece essa reputação, é sim um ótimo ator, como demonstrou mais uma vez, assim como em ´Cruel´.
Ao entrar no teatro o cenário já estava exposto. O que víamos era uma casa, com um sofá próximo a uma mesa de jantar e cadeiras, assim com uma geladeira, em primeiro plano. Do lado esquerdo, uma cama de casal, e mais ao fundo um dormitório infantil e jardim. Os ambientes eram mais ou menos definidos pelas arestas de cubos em estrutura metálica branca, com uns 2,5m de lado. Em cima de alguns desses cubos, haviam ´tampas´ metálicas com uma tela fechando os quadrados,e que em alguns momentos receberam projeções de um filme.
A peça se inicia na conversa entre duas irmãs, Isa ( Simone Zucatto ) e Becca ( Maria Fernanda Cândido ). Isa é a irmã mais nova, inconsequente, e Becca a mais velha, mais centrada. Da conversa entre as duas ficamos sabendo que Isa está grávida, e Becca, que dobrava roupas de criança sobre a mesa, diz a ela que não vai me desfazer daquele enxoval, pois poderá servir para o bebê que está a caminho. Com a recusa de Isa, que não quer guardar as roupas para o bebê que ela nem sabe se vai ser menino ainda, é que ficamos sabendo que o filho de Becca faleceu. E o menino morto de certa maneira é o personagem principal da história.
A peça trata do luto, e do maior luto que alguém pode experimentar, que é a morte de um filho. Depois do falecimento do único filho do casal, de 4 anos de idade, Becca e Paulo ( Reynaldo Gianecchini ) apresentam comportamentos opostos para continuar a viver após a tragédia. Becca se fecha em si mesma, Paulo busca apoio num grupo de ajuda. Becca vai aos poucos se desfazendo dos objetos do filho ( roupas, brinquedos ), Paulo mantém o quarto do garoto intocado, e principalmente, guarda uma fita vhs com imagens do menino. É dessa diferença de encarar a morte que acontecem os conflitos entre o casal: vender ou não vender a casa, como reagir às tentativas de contato feitas pelo adolescente que atropelou o menino - Jason ( Felipe Hintze). Mas estou deixando o principal de lado, a peça não é sobre os conflitos do casal, é sobre o luto. As diferenças de comportamento são apenas maneiras diferentes de expressar esse luto.
E aí vem o bom trabalho dos atores. Um tema como esse é fácil de escorregar para o melodrama, para o sentimentalismo barato. Mas felizmente isso não acontece, a gente percebe a direção tranquila que os atores tiveram. Tanto a Maria Fernanda Cândido quanto o Reynaldo Gianecchini vão muito bem em seus personagens, ela num registro mais contido, ele com mais alterações durante o desenvolvimento da trama, de um sedutor a um homem desesperado que chora copiosamente porque a mulher apagou sem querer a fita vhs com as poucas imagens do filho em movimento. São dois jeitos de encarar a dor, e cada um se desincumbiu muito bem da sua tarefa.
Mas tem uma grata surpresa na peça: o Felipe Hintze, que interpreta o adolescente que matou acidentalmente o garoto, tem um papel pequeno mas fundamental na encenação. É interessante ver um cara grande, corpulento, em papel tão delicado, com um personagem que obviamente se sente submisso aos pais do garoto morto por ter causado a tragédia da morte de uma criança, mesmo que involuntariamente. E quase que eu ia deixando de citar a Nat (Selma Egrei), mãe da Becca e da Isa, portanto avó do menino morto. Ela dá uns toques cômicos na peça, ajuda a tirar um pouco o clima pesado.
Outra coisa de que gostei bastante foi a interação entre o cenário, a iluminação com as projeções do garotinho, e o andamento da história. O cenário realmente ajudou a contar o enredo, com as projeções nas ´tampas´ dos cubos. Houve também um momento graficamente muito bonito, onde para marcar a passagem do tempo a luz ia desenhando as arestas de cada cubo.
´A toca do coelho´ no final das contas é um ótimo espetáculo, um texto denso, forte, bons atores, bom cenário, e trata de um tema muito incômodo. Quem tem filho fica com um frio na espinha, só de pensar em passar por essa situação. Para mim isso é sinal de que houve uma empatia com os personagens, e não com os atores, não interessava se quem estava ali eram duas caras conhecidas das novelas da Rede Globo. Retomando o início do texto, que pena de quem não consegue ir além disso.
A Toca do Coelho
Com Maria Fernanda Cândido, Reynaldo Gianecchini, Selma Egrei, Simone Zucatto e Felipe Hintze
Texto de David Lindsay-Abaire
Direção de Dan Stulbach
Teatro Faap, até 23/fev/14
Mais uma vez, não havia programas disponíveis |
Sábado à tarde, a cidade relativamente tranquila, mas antes mesmo de chegar ao teatro tive uma surpresa: o valor do estacionamento na Faap passou para absurdos R$ 40,00! Eu sempre soube que estacionar por lá era caro, mas me recusei a pagar esse valor. Por sorte o jogo no Estádio do Pacaembu só começaria depois, as ruas ainda estavam bem tranquilas, consegui vaga facilmente. E agora vendo as postagens antigas do blog e o extrato do ´Sem Parar´, vi que paguei R$ 20,00 em maio de 2013 ( quando fui à Faap assistir ´Quase Normal´), e ´apenas´ R$ 17,00 em setembro de 2013 ao assistir ´Cruel´! Como pode ter havido um aumento desses em apenas 5 meses? Simplesmente absurdo.
Mas de qualquer maneira isso não seria motivo para estragar a noite que estava só começando. Aliás, de sábado há duas sessões do espetáculo, sinal de que está fazendo muito sucesso. Essa foi mais uma peça com o Reynaldo Gianecchini, e de novo, a presença dele provocava suspiros na parte feminina da plateia. Gente gritando quando ele entrou no palco, assovios... uma pena que isso aconteça. Na minha opinião, quem vai ao teatro com esse espírito de ver o ´ídolo´, acaba só vendo o ator, e não o personagem, e não aproveita o espetáculo como deveria. De certa maneira, acho que isso desqualifica o trabalho dele como ator, acaba sendo só um rosto/corpo bonito. E sem dúvida ele não merece essa reputação, é sim um ótimo ator, como demonstrou mais uma vez, assim como em ´Cruel´.
Ao entrar no teatro o cenário já estava exposto. O que víamos era uma casa, com um sofá próximo a uma mesa de jantar e cadeiras, assim com uma geladeira, em primeiro plano. Do lado esquerdo, uma cama de casal, e mais ao fundo um dormitório infantil e jardim. Os ambientes eram mais ou menos definidos pelas arestas de cubos em estrutura metálica branca, com uns 2,5m de lado. Em cima de alguns desses cubos, haviam ´tampas´ metálicas com uma tela fechando os quadrados,e que em alguns momentos receberam projeções de um filme.
A peça se inicia na conversa entre duas irmãs, Isa ( Simone Zucatto ) e Becca ( Maria Fernanda Cândido ). Isa é a irmã mais nova, inconsequente, e Becca a mais velha, mais centrada. Da conversa entre as duas ficamos sabendo que Isa está grávida, e Becca, que dobrava roupas de criança sobre a mesa, diz a ela que não vai me desfazer daquele enxoval, pois poderá servir para o bebê que está a caminho. Com a recusa de Isa, que não quer guardar as roupas para o bebê que ela nem sabe se vai ser menino ainda, é que ficamos sabendo que o filho de Becca faleceu. E o menino morto de certa maneira é o personagem principal da história.
A peça trata do luto, e do maior luto que alguém pode experimentar, que é a morte de um filho. Depois do falecimento do único filho do casal, de 4 anos de idade, Becca e Paulo ( Reynaldo Gianecchini ) apresentam comportamentos opostos para continuar a viver após a tragédia. Becca se fecha em si mesma, Paulo busca apoio num grupo de ajuda. Becca vai aos poucos se desfazendo dos objetos do filho ( roupas, brinquedos ), Paulo mantém o quarto do garoto intocado, e principalmente, guarda uma fita vhs com imagens do menino. É dessa diferença de encarar a morte que acontecem os conflitos entre o casal: vender ou não vender a casa, como reagir às tentativas de contato feitas pelo adolescente que atropelou o menino - Jason ( Felipe Hintze). Mas estou deixando o principal de lado, a peça não é sobre os conflitos do casal, é sobre o luto. As diferenças de comportamento são apenas maneiras diferentes de expressar esse luto.
E aí vem o bom trabalho dos atores. Um tema como esse é fácil de escorregar para o melodrama, para o sentimentalismo barato. Mas felizmente isso não acontece, a gente percebe a direção tranquila que os atores tiveram. Tanto a Maria Fernanda Cândido quanto o Reynaldo Gianecchini vão muito bem em seus personagens, ela num registro mais contido, ele com mais alterações durante o desenvolvimento da trama, de um sedutor a um homem desesperado que chora copiosamente porque a mulher apagou sem querer a fita vhs com as poucas imagens do filho em movimento. São dois jeitos de encarar a dor, e cada um se desincumbiu muito bem da sua tarefa.
Mas tem uma grata surpresa na peça: o Felipe Hintze, que interpreta o adolescente que matou acidentalmente o garoto, tem um papel pequeno mas fundamental na encenação. É interessante ver um cara grande, corpulento, em papel tão delicado, com um personagem que obviamente se sente submisso aos pais do garoto morto por ter causado a tragédia da morte de uma criança, mesmo que involuntariamente. E quase que eu ia deixando de citar a Nat (Selma Egrei), mãe da Becca e da Isa, portanto avó do menino morto. Ela dá uns toques cômicos na peça, ajuda a tirar um pouco o clima pesado.
Outra coisa de que gostei bastante foi a interação entre o cenário, a iluminação com as projeções do garotinho, e o andamento da história. O cenário realmente ajudou a contar o enredo, com as projeções nas ´tampas´ dos cubos. Houve também um momento graficamente muito bonito, onde para marcar a passagem do tempo a luz ia desenhando as arestas de cada cubo.
´A toca do coelho´ no final das contas é um ótimo espetáculo, um texto denso, forte, bons atores, bom cenário, e trata de um tema muito incômodo. Quem tem filho fica com um frio na espinha, só de pensar em passar por essa situação. Para mim isso é sinal de que houve uma empatia com os personagens, e não com os atores, não interessava se quem estava ali eram duas caras conhecidas das novelas da Rede Globo. Retomando o início do texto, que pena de quem não consegue ir além disso.
A Toca do Coelho
Com Maria Fernanda Cândido, Reynaldo Gianecchini, Selma Egrei, Simone Zucatto e Felipe Hintze
Texto de David Lindsay-Abaire
Direção de Dan Stulbach
Teatro Faap, até 23/fev/14
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
Jocasta
Jocasta, no Teatro Eva Herz:
Engraçado que eu não achava que fazia tanto tempo desde a última vez em que estive no Eva Herz, para assistir ´Nise da Silveira - Senhora das Imagens´, mas isso foi em 2012, antes do início desse blog. Então vão algumas informações sobre o Eva Herz, que fica dentro da Livraria Cultura do Conjunto Nacional: é um lugar de fácil acesso, com metrô na porta. Para quem vai de carro é mais complicado conseguir lugar para estacionar, mas a dica é se afastar um pouco do Conjunto Nacional, assim o custo do estacionamento fica bem mais baixo, e se tiver sorte, dá até para encontrar lugar na rua mesmo, já que na R. Pe. João Manuel e na Alameda Jaú é possível estacionar depois das oito da noite. Pelo fato do teatro ficar dentro da livraria, o foyer é o próprio espaço de venda de livros, o que é muito bom pra ficar garimpando alguma coisa. Lá dentro a sala de espetáculos não tem charme nenhum, carpete, poltronas, tudo liso, sem nenhum detalhe. Isso chama a atenção pelo contraste com a própria livraria, um projeto tão legal do arquiteto Fernando Brandão. Dá a impressão de que para o teatro foi suficiente proporcionar as condições básicas de conforto para a platéia, sem a mesma preocupação estética e lúdica da livraria. Tudo certo em termos de conforto, as poltronas são boas, o espaço para as pernas não é muito apertado, enfim, se contentaram em fazer o básico, mas fizeram bem feito.
A peça dessa quinta-feira era ´Jocasta´, um monólogo interpretado pela Débora Duboc com o texto de uma adaptação feita pelo Elias Andreato ( que entre outros trabalhos, também esteve em ´Eu não dava praquilo´ e ´Cruel´ para o mito grego. O que se poderia esperar, além de uma boa peça? E cumpriu a expectativa.
Essa versão do mito de Édipo é narrada a partir o ponto de vista da mãe e esposa dele, a própria Jocasta. No programa a plateia é informada de que no mito original Jocasta quase não tem falas, e como está na boca da personagem e também no programa, ´Jocasta faz tudo o que está ao seu alcance para cumprir com seu papel de Rainha, Mulher e Mãe. Com Rainha, ela tem que submeter-se aos poderes de seu rei. Como Mulher, ela é obrigada a submeter-se aos desejos de seu homem. Como Mãe, ela é obrigada a submeter-se aos desígnios cruéis dos deuses.´. Mas dessa vez será Jocasta quem irá falar diretamente à plateia, ou melhor, à Assembleia de Tebas, que é como a personagem se refere a quem ouve a sua história.
O cenário é simples, duas pequenas mesas nas laterais com jarro e uma boneca sobre elas, uma cadeira de acrílico transparente, um fio vermelho que pende do teto. As paredes laterais e o fundo do palco são fechadas por cortinas. A peça tem início com Jocasta deitada no centro do palco, com fios que prendem suas mãos aos céus. Ao se levantar, ela tem um gestual de marionete, como se fosse uma boneca manipulada pelos deuses, e aos poucos vai se livrando desses fios em suas mãos, e também esse gestual vai diminuindo. Outra coisa que chama a atenção é o figurino, um vestido azul do Fause Haten - de novo ele, acho que já posso dizer que quando for a uma peça e o figurino for impecável, 90% de chance dele ser o responsável.
O texto, é claro, é pesado. Uma mulher que é indicada para desposar o rei ( Laio ), mas este só lamenta a morte de seu amante, até que finalmente ele faz um filho nela. Esse filho é o portador de uma maldição, e é levado para ser morto... anos depois Laio morre, e a cidade de Tebas vive um período de fome e peste, que só é encerrado com a chegada de Édipo, que ao salvar a cidade é consagrado como o novo rei, e portanto, marido de Jocasta. Ela então vive um período de felicidade, até descobrir que na verdade seu novo marido é seu filho com Laio... e novamente a tragédia dá as caras em sua vida. Foi interessante que enquanto a peça se desenrolava, eu também lembrava da encenação de ´Édipo Rei´, que assisti ano passado. De certa maneira, uma complementou a outra.
O texto é um prato cheio para psicólogos, psiquiatras, feministas, mas eu não entrei nesse caminho durante a apresentação. Me fixei mais em perceber como era apresentado o sofrimento extremo dessa mulher, e como a atriz transmitia isso. Em nenhum momento a interpretação resvala para o sentimentalismo barato, o dramalhão. Pelo contrário, é o sofrimento apresentado de forma profunda, ´limpa´, sem excessos, sem maneirismos. Alguns ´respiros´ eram dados em pequenas músicas interpretadas ao vivo pela Débora Duboc, que davam mais leveza à encenação.
Mas teve uma coisa de que não gostei: a iluminação em determinados momentos é voltada direta para a Assembleia de Tebas, ou seja, para o público. E isso incomodava, a luz relativamente forte nos olhos de quem está no escuro chega a doer os olhos, e se a intenção foi a de trazer o público para dentro da peça, na minha opinião isso causou o efeito contrário.
Não é uma peça fácil, dessas que se vai comer uma pizza e bater papo. Pelo contrário, pede uma reflexão para digerir todo esse sofrimento.
Jocasta
Com Débora Duboc
Texto e Direção de Elias Andreato
Teatro Eva Herz, até 27/mar/14
Engraçado que eu não achava que fazia tanto tempo desde a última vez em que estive no Eva Herz, para assistir ´Nise da Silveira - Senhora das Imagens´, mas isso foi em 2012, antes do início desse blog. Então vão algumas informações sobre o Eva Herz, que fica dentro da Livraria Cultura do Conjunto Nacional: é um lugar de fácil acesso, com metrô na porta. Para quem vai de carro é mais complicado conseguir lugar para estacionar, mas a dica é se afastar um pouco do Conjunto Nacional, assim o custo do estacionamento fica bem mais baixo, e se tiver sorte, dá até para encontrar lugar na rua mesmo, já que na R. Pe. João Manuel e na Alameda Jaú é possível estacionar depois das oito da noite. Pelo fato do teatro ficar dentro da livraria, o foyer é o próprio espaço de venda de livros, o que é muito bom pra ficar garimpando alguma coisa. Lá dentro a sala de espetáculos não tem charme nenhum, carpete, poltronas, tudo liso, sem nenhum detalhe. Isso chama a atenção pelo contraste com a própria livraria, um projeto tão legal do arquiteto Fernando Brandão. Dá a impressão de que para o teatro foi suficiente proporcionar as condições básicas de conforto para a platéia, sem a mesma preocupação estética e lúdica da livraria. Tudo certo em termos de conforto, as poltronas são boas, o espaço para as pernas não é muito apertado, enfim, se contentaram em fazer o básico, mas fizeram bem feito.
A peça dessa quinta-feira era ´Jocasta´, um monólogo interpretado pela Débora Duboc com o texto de uma adaptação feita pelo Elias Andreato ( que entre outros trabalhos, também esteve em ´Eu não dava praquilo´ e ´Cruel´ para o mito grego. O que se poderia esperar, além de uma boa peça? E cumpriu a expectativa.
Essa versão do mito de Édipo é narrada a partir o ponto de vista da mãe e esposa dele, a própria Jocasta. No programa a plateia é informada de que no mito original Jocasta quase não tem falas, e como está na boca da personagem e também no programa, ´Jocasta faz tudo o que está ao seu alcance para cumprir com seu papel de Rainha, Mulher e Mãe. Com Rainha, ela tem que submeter-se aos poderes de seu rei. Como Mulher, ela é obrigada a submeter-se aos desejos de seu homem. Como Mãe, ela é obrigada a submeter-se aos desígnios cruéis dos deuses.´. Mas dessa vez será Jocasta quem irá falar diretamente à plateia, ou melhor, à Assembleia de Tebas, que é como a personagem se refere a quem ouve a sua história.
O cenário é simples, duas pequenas mesas nas laterais com jarro e uma boneca sobre elas, uma cadeira de acrílico transparente, um fio vermelho que pende do teto. As paredes laterais e o fundo do palco são fechadas por cortinas. A peça tem início com Jocasta deitada no centro do palco, com fios que prendem suas mãos aos céus. Ao se levantar, ela tem um gestual de marionete, como se fosse uma boneca manipulada pelos deuses, e aos poucos vai se livrando desses fios em suas mãos, e também esse gestual vai diminuindo. Outra coisa que chama a atenção é o figurino, um vestido azul do Fause Haten - de novo ele, acho que já posso dizer que quando for a uma peça e o figurino for impecável, 90% de chance dele ser o responsável.
O texto, é claro, é pesado. Uma mulher que é indicada para desposar o rei ( Laio ), mas este só lamenta a morte de seu amante, até que finalmente ele faz um filho nela. Esse filho é o portador de uma maldição, e é levado para ser morto... anos depois Laio morre, e a cidade de Tebas vive um período de fome e peste, que só é encerrado com a chegada de Édipo, que ao salvar a cidade é consagrado como o novo rei, e portanto, marido de Jocasta. Ela então vive um período de felicidade, até descobrir que na verdade seu novo marido é seu filho com Laio... e novamente a tragédia dá as caras em sua vida. Foi interessante que enquanto a peça se desenrolava, eu também lembrava da encenação de ´Édipo Rei´, que assisti ano passado. De certa maneira, uma complementou a outra.
O texto é um prato cheio para psicólogos, psiquiatras, feministas, mas eu não entrei nesse caminho durante a apresentação. Me fixei mais em perceber como era apresentado o sofrimento extremo dessa mulher, e como a atriz transmitia isso. Em nenhum momento a interpretação resvala para o sentimentalismo barato, o dramalhão. Pelo contrário, é o sofrimento apresentado de forma profunda, ´limpa´, sem excessos, sem maneirismos. Alguns ´respiros´ eram dados em pequenas músicas interpretadas ao vivo pela Débora Duboc, que davam mais leveza à encenação.
Mas teve uma coisa de que não gostei: a iluminação em determinados momentos é voltada direta para a Assembleia de Tebas, ou seja, para o público. E isso incomodava, a luz relativamente forte nos olhos de quem está no escuro chega a doer os olhos, e se a intenção foi a de trazer o público para dentro da peça, na minha opinião isso causou o efeito contrário.
Não é uma peça fácil, dessas que se vai comer uma pizza e bater papo. Pelo contrário, pede uma reflexão para digerir todo esse sofrimento.
Jocasta
Com Débora Duboc
Texto e Direção de Elias Andreato
Teatro Eva Herz, até 27/mar/14
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Tríptico Samuel Beckett
Um autor fundamental do teatro, um lugar legal, uma grande atriz..... ´Tríptico Samuel Beckett´ tinha tudo para propiciar uma noite bastante interessante. Mas...
A primeira visita do ano ao CCBB foi em plena segunda-feira, um dia bastante diferente para ir ao teatro, e por isso mesmo, muito bom. Dificilmente eu teria outro compromisso no mesmo dia, como costuma acontecer aos finais de semana.
E a expectativa era muito boa, conforme descrevi no primeiro parágrafo, e o maior interesse era entrar um pouco mais na obra do Prêmio Nobel de Literatura, autor de ´Esperando Godot´. Só que não foi dessa vez...
Eu fui ao teatro sem ter lido nada sobre a peça antes, e dessa vez nem o programa deu pra ler, já que era impresso com fundo preto, e a platéia estava na penumbra. Só o que eu sabia é que o texto foi construído a partir de fragmentos de três peças do autor ( óbvio, com esse nome... ).
Quando entrei na sala de espetáculos, as atrizes já estavam no palco, imóveis. Toda a cenografia é preta, os figurinos são pretos, cada uma está sentada em uma cadeira, com a Nathália Timberg ao centro. No fundo, um grande esqueleto humano ( maior que uma pessoa em escala natural ), e um backlight com uma caveira. Apenas a Paula Spinelli se movimentava, com o olhar arregalado e piscando insistentemente.
Depois dos avisos de praxe sobre a segurança do local e os patrocinadores, ouve-se o terceiro sinal e a Juliana Galdino dá início à função. Somente ela é iluminada por uma luz branca e dura, recortada em forma de um retângulo. O texto é pesado, a fala é alternada entre quase um sussurro e verdadeiros gritos, onde a gente até se assusta com a voz grave dela. Ok, vamos lá acompanhando, 5, 10, 15 minutos de monólogo ( não sei bem, obviamente estou falando da sensação do tempo, e não do tempo cronometrado ), e o interesse vai se esvaindo... são frases e frases sobre a vida, ditas com intensidade, numa verborragia difícil de acompanhar.
Aí é a vez da Paula Spinelli, num tom mais calmo apresentar o seu texto. Praticamente não há gestos, quase não saem do lugar, é apenas a palavra dita pelos intérpretes que tem importância. Mas dessa vez, o texto recitado é mais curto, e menos impactante. E finalmente chega a vez da Natália Timberg, que também faz seu papel com mais suavidade, apesar do texto pesado. E aí a dinâmica segue assim, cada uma falando o seu texto separadamente. O máximo de interação que acontece é através dos olhares, e dá a entender que as três atrizes representam a mesma mulher em 3 fases da vida.
As atrizes, diretor, produtor, cenógrafo, iluminador, camareiro, figurinista ( ou seus correspondentes do sexo oposto ) que me desculpem, mas... não gostei, nem um pouco. Acho até que entendi a proposta de se dar total importância à linguagem, mas acho que não foram felizes. Sinceramente, duvido que alguém que não seja estudante de teatro e que já conheça as peças do Beckett vai sair de lá com alguma coisa do universo dele na cabeça. Como exercício para as atrizes deve ser fantástico, mas como espectador foi decepcionante.
Acontece. Fica pra próxima.
Tríptico Samuel Beckett
Com Natália Timberg, Paula Spinelli e Juliana Galdino
Adaptação de Roberto Alvim sobre textos de Samuel Beckett
Direção de Roberto Alvim
CCBB SP, até 14/abr/14
A primeira visita do ano ao CCBB foi em plena segunda-feira, um dia bastante diferente para ir ao teatro, e por isso mesmo, muito bom. Dificilmente eu teria outro compromisso no mesmo dia, como costuma acontecer aos finais de semana.
E a expectativa era muito boa, conforme descrevi no primeiro parágrafo, e o maior interesse era entrar um pouco mais na obra do Prêmio Nobel de Literatura, autor de ´Esperando Godot´. Só que não foi dessa vez...
Eu fui ao teatro sem ter lido nada sobre a peça antes, e dessa vez nem o programa deu pra ler, já que era impresso com fundo preto, e a platéia estava na penumbra. Só o que eu sabia é que o texto foi construído a partir de fragmentos de três peças do autor ( óbvio, com esse nome... ).
Quando entrei na sala de espetáculos, as atrizes já estavam no palco, imóveis. Toda a cenografia é preta, os figurinos são pretos, cada uma está sentada em uma cadeira, com a Nathália Timberg ao centro. No fundo, um grande esqueleto humano ( maior que uma pessoa em escala natural ), e um backlight com uma caveira. Apenas a Paula Spinelli se movimentava, com o olhar arregalado e piscando insistentemente.
Depois dos avisos de praxe sobre a segurança do local e os patrocinadores, ouve-se o terceiro sinal e a Juliana Galdino dá início à função. Somente ela é iluminada por uma luz branca e dura, recortada em forma de um retângulo. O texto é pesado, a fala é alternada entre quase um sussurro e verdadeiros gritos, onde a gente até se assusta com a voz grave dela. Ok, vamos lá acompanhando, 5, 10, 15 minutos de monólogo ( não sei bem, obviamente estou falando da sensação do tempo, e não do tempo cronometrado ), e o interesse vai se esvaindo... são frases e frases sobre a vida, ditas com intensidade, numa verborragia difícil de acompanhar.
Aí é a vez da Paula Spinelli, num tom mais calmo apresentar o seu texto. Praticamente não há gestos, quase não saem do lugar, é apenas a palavra dita pelos intérpretes que tem importância. Mas dessa vez, o texto recitado é mais curto, e menos impactante. E finalmente chega a vez da Natália Timberg, que também faz seu papel com mais suavidade, apesar do texto pesado. E aí a dinâmica segue assim, cada uma falando o seu texto separadamente. O máximo de interação que acontece é através dos olhares, e dá a entender que as três atrizes representam a mesma mulher em 3 fases da vida.
As atrizes, diretor, produtor, cenógrafo, iluminador, camareiro, figurinista ( ou seus correspondentes do sexo oposto ) que me desculpem, mas... não gostei, nem um pouco. Acho até que entendi a proposta de se dar total importância à linguagem, mas acho que não foram felizes. Sinceramente, duvido que alguém que não seja estudante de teatro e que já conheça as peças do Beckett vai sair de lá com alguma coisa do universo dele na cabeça. Como exercício para as atrizes deve ser fantástico, mas como espectador foi decepcionante.
Acontece. Fica pra próxima.
Tríptico Samuel Beckett
Com Natália Timberg, Paula Spinelli e Juliana Galdino
Adaptação de Roberto Alvim sobre textos de Samuel Beckett
Direção de Roberto Alvim
CCBB SP, até 14/abr/14
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