´Bem-vindo, Estranho' tem o apelo de contar com uma das mais populares atrizes da história da televisão, Regina Duarte. E mesmo eu não sendo exatamente alguém que acompanhe novelas, às vezes dava mesmo a impressão de se estar assistindo à tv, por contar com uma voz tão familiar ali no teatro.
Mas ´Bem-vindo, Estranho´ tem características mais próximas do cinema, dos filmes ´noir´, do que das novelas brasileiras. É quase como se a gente estivesse assistindo a um filme de suspense, só que ao vivo. Não acho que haja grandes reflexões sobre a vida, as relações familiares, as aparências, a justiça, apesar de esses assuntos serem pertinentes ao universo da peça. Eu pelo menos encarei mais como um grande entretenimento, sem maiores pretensões, e acho que a montagem cumpre muito bem esse papel. Acho que quem for ao Teatro Vivo procurar um bom entretenimento vai gostar da peça, assim como eu.
É a história de duas mulheres, mãe e filha, que vivem sozinhas em um apartamento popular em Londres. A mãe, Jaki ( Regina Duarte ), é mais descontraída, meio ´porra-louca´, e a filha Elaine ( Mariana Loureiro ), é uma jovem advogada, toda certinha, que foi criada somente pela mãe. Há um conflito permanente entre as duas, com Jaki sendo provocada o tempo todo por sua mãe, que tem um comportamento entre infantilizado e auto-destrutivo, e que procura manipular a filha a seu bel-prazer.
Mas a relação familiar complica mesmo quando Elaine traz para morar com ela o namorado, Joseph ( Kiko Bertholini ). Joseph acabou de sair da prisão, onde estava por ser acusado te ter matado a sua ex-namorada, e foi como defensora dele que Elaine o conheceu - daí o título da peça. Mas vou parar de contar o enredo por aqui, já que é uma história de suspense. Mesmo não indo até o final, que foi mesmo surpreendente, há pequenas revelações no enredo que vale a pena quem for assistir poder curtir também, então é melhor não revelar mais nada.
O cenário da peça é fixo, um apartamento antigo da classe baixa londrina. Aliás, com alguns detalhes muito elegantes: porta dupla, barra-lisa de papel de parede com rodameio, janelas altas... ok, ser pobre em Londres deve ser mesmo muito chique! Ao mesmo tempo em que vemos a sala onde se desenvolve boa parte da trama, também temos a vista do banheiro, pois os momentos em que os personagens estão lá são os mais dramáticos. O figurino é ´ok´, nada que tenha me chamado a atenção. O que me irritou um pouco na montagem foi a sonoplastia... as músicas para criar o clima de suspense eram sempre muito altas, óbvias, e davam um ar forçado à cena. Comparando, me pareceu algo tão natural quanto àquelas risadas nos programas de humor popular... totalmente dispensáveis.
Como já disse, a voz da Regina Duarte é tão familiar que fica difícil esquecer que é a Regina Duarte em cena, mas isso é mérito de toda uma vida, de toda a carreira dela. O fato é que ela está muito à vontade no papel de uma mãe que amando muito a filha, a inferniza o tempo todo. O Kiko Bertholini tem um biotipo bem europeu, adequado ao personagem, mas apesar de não comprometer a peça, em minha opinião teve um desempenho um pouco abaixo das mulheres. Pra mim o grande destaque da apresentação foi a Mariana Loureiro, que faz uma filha oprimida e amorosa, uma namorada apaixonada e vingativa...
Bem-vindo, Estranho
Com Regina Duarte, Mariana Loureiro e Kiko Bertholini
Direção de Murilo Pasta
Texto de Angela Clerkin
Teatro Vivo, até 09/fev/14
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