A terceira - e certamente última visita do ano ao Sesc Vila Mariana foi pra assistir ao Marco Nanini:
Não foi à toa que já comecei falando do Nanini... acho que eu, e todo mundo que estava presente estava lá principalmente por causa dele, que é um astro da tv e do cinema, mas que eu só vi no teatro uma vez, em ´O Mistério de Irma Vap´, nem sei mais há quantos anos... A direção é do Guel Arraes, que tem um histórico longo de parcerias de sucesso com o Nanini em audiovisuais.
Enfim, o que quero deixar registrado é que o público já estava ganho. Tenho certeza de que estávamos todos ali para ver um ator querido, se divertir, aproveitar. E não posso reclamar do Nanini, ele fez a parte dele no monólogo. A questão é que o texto é enfadonho... propositalmente enfadonho.
A história é mais ou menos a seguinte: há um desses consultores de carreira, que está dando uma palestra sobre o título da peça - A arte e a maneira de abordar seu chefe para pedir um aumento. Isso é feito através de um texto que tem a estrutura de um fluxograma, onde ele vai dizendo cada etapa a seguir, e o que fazer caso a etapa não possa ser cumprida, dando alternativas. Então, por exemplo, para pedir um aumento ao seu chefe você deve ir à sala dele. Ele pode estar, ou não estar na sala dele. Se ele estiver na sala dele, você entra. Se ele não estiver na sala dele, você não entra. Se você não entrar na sala dele, você pode fazer hora ou pode voltar depois. Se você for fazer hora, pode conversar com a secretária ou pode tomar um café... e por aí vai.
Há projeções no fundo do palco que reforçam o que está sendo exposto,
através de fluxogramas. Aliás, a cenografia é muito simples: apenas uma
mesa e cadeira do lado esquerdo, e ao meio uma faixa, que me pareceu ser
de tecido, que se desenrola do centro do palco e sobe ao fundo.
Como eu disse acima, o texto é propositalmente enfadonho. Faz da repetição uma maneira de reforçar ao máximo o que me pareceu ser o grande mote da peça: a desumanização do ser humano no ambiente de trabalho. O palestrante é um autômato, um robô que não faz mais do que repetir ´ad nauseam´ um método muito medroso de se conseguir o aumento desejado. E pelo menos para mim, que não sou nem um pouco fã desses consultores de carreira, desses administradores cheios de jargões, foi também uma grande crítica a esse mundo corporativo.
Mas por outro lado, chega uma hora em que a mensagem está dada, e a peça continua... e continua... e continua... tinha gente mais fã do Nanini do que eu, e que ria às gargalhadas a cada pequeno avanço que a história permitia. Eu não cheguei a tanto, apesar de sair de lá admirado com a capacidade de retenção de um texto longo e repetitivo. Se de um lado essa monotonia toda não deve exigir maiores recursos de um ator, por outro lado não deve ser fácil ficar tanto tempo em cena sozinho com um texto tão repetitivo em si mesmo.
A arte e a maneira de abordar seu chefe para pedir um aumento
Com Marco Nanini
Direção de Guel Arraes
Texto de Georges Perec
Sesc Vila Mariana, até 01/dez/13